Terça-feira, 21 de Março de 2006

Recrutamento acima dos 30 anos.

Saudações!

Finalmente li uma notícia no jornal, ontem no DN, que me surpreendeu pela positiva. UAU! Eu sei que, hoje em dia, ler uma notícia que seja interessante e positiva, tirando os resultados da bola, é algo RARO! E se for sobre política de Recursos Humanos, então no mínimo (e estou a ser optimista) está ao nível da probabilidade de sair o “euromilhões”.

Pois é, saiu um artigo de uns senhores, que são professores universitários, e que nas suas recentes pesquisas «sobre o que as empresas pensam dos seus funcionários seniores», chegaram à seguinte conclusão: “As empresas portuguesas desprezam os seus funcionários seniores”.

Extraordinário!

Lendo o artigo, existem diversas conclusões que, para quem esteja minimamente atento, espelham lindamente o que tem sido a política de R.H. neste país. Vou partilhar convosco algumas conclusões destes senhores:

- As empresas portuguesas não dão qualquer valor a um trabalhador sénior (alguém na casa dos 31 aos 50), o que contraria a tendência internacional (onde a experiência e os conhecimentos são valores importantes a ter em conta);

- Preferem despedir os seus funcionários seniores, porque são caros e estão desmotivados / acomodados (porque será?), e recrutar elementos mais jovens, supostamente mais dinâmicos e, acima de tudo, mais baratos (grande paradigma da contratação nacional);

- É referido que os trabalhadores seniores são mais responsáveis, com maior capacidade de decisão e que, quando ficam na empresa, são mais motivados que os mais jovens, com menos absentismo e com maior produtividade, assegurando mais-valias importantes para as empresas. Isto é o contrário do que é defecado pelos gurus deste esgoto da Europa.

- Dizem, ainda, que, na “tugalândia”, se prefere recorrer à contratação de estagiários, formá-los e (depois de estarem aptos a dar qualquer coisinha) a seguir, oferece-los à concorrência, do que sonhar em contratar alguém mais velho. O tempo perdido em formação não é sequer contabilizado e quando podem começar a usufruir de algum retorno…zás, mandam-nos embora (isto sim é importante, aí da empresa que tiver funcionários com mais de 2 anos de “casa”).

- Estes senhores, ainda escrevem que “O absentismo e a produtividade estão directamente ligados às perspectivas de remuneração e de carreira”. Como os trabalhadores portugueses já não se alimentam de ilusões…tirem as conclusões que quiserem.

- Defendem, esta afirmação é surpreendente, que «só se consegue conhecer verdadeiramente o trabalhador quando este passa para os quadros da empresa». Isto é curioso, o que se tem defendido, até à data, é que as empresas precisam dos trabalhadores a prazo mais tempo para os conhecerem melhor.

Existem mais conclusões interessantes, mas para já chega. Em resumo, realmente este país é uma delícia. Temos bons trabalhadores, com experiência, com capacidade de decisão e que são facilmente motiváveis, o que fazemos? Desprezamo-los!

Mas não só, fazemos melhor: despedimo-los! E se quiserem trabalhar têm de ser mais baratos do que os jovens, pois, estão cheios de vícios terríveis, não interessam, são preguiçosos e parasitas.

Ora, daqui podemos deduzir que, para as empresas da tugalândia, quando se fala em R.H., só interessam critérios como: a idade e a “esmola” remuneratória. O resto só atrapalha. Produ…quê? Isso para que serve?

Espera lá! Isto é um bocado mau, que é que isto tem de bom?

Apenas uma coisa, finalmente alguém ousou falar no miserabilismo nacional que envolve os R H deste país. Pelo menos há quem comece a defender que os funcionários numa empresa não são só um custo, estão lá por alguma razão e que as empresas, para existirem, têm de ter pessoas (este ponto é realmente digno de nota, dizer que são pessoas e não animais consumidores de recursos, ou seja, de custos).

E estes senhores ainda vão mais longe, falam em “investimento” em R H! Bem, isto é uma verdadeira revolução na mentalidade “tuga”, “o quê considerar aquela besta, que ali está a fingir que trabalha, como um investimento”?

Além disso (esta parte é uma verdadeira heresia ao status quo vigente) atrevem-se a sugerir que a produtividade, a motivação e o absentismo estão relacionados com: a remuneração e as expectativas futuras. O quê? Um trabalhador (esse ser aberrante) tem expectativas? Onde é que já se viu uma empresa portuguesa incorporar na sua cultura valores como: a motivação, expectativas, carreiras, remunerações não miserabilistas, etc. Isso não faz parte do bom gestor “tuga”. Nem pensar!

Parece que começamos a procurara identificar algumas causas para o estado decrépito da nossa economia e da nossa sociedade. Realmente não é a única, mas é um primeiro passo. A forma como se encaram os R.H. neste país espelha muita coisa. Por alguma razão aparece o termo “recursos”, deve ser por ser algo que vale e que serve para alguma coisa.

Bom, vamos a aclamar! Lá por se começarem a escreverem coisas destas, não quer dizer que algo vá mudar. Continuamos na terra estranha, aqui o absurdo impera, há que ir com calma. Tomem mais prozac’s e continuem com a vidinha, que uma evolução de mentalidades só pode ocorrer por Decreto-Lei e como os nossos digníssimos representantes nas altas esferas do poder não lêem, já sabem tudo e impõem tudo, só com uma revolução é que lá chegamos.

RdS
publicado por GERAL às 16:27
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De MS a 21 de Março de 2006 às 16:38
O grande erro aqui na Terra Estranha é chamarem Humanos aos trabalhadores...

Uma vez que os Trabalhadores são vistos como uns clips bem caros (alguns ainda se safam se fizerem umas festinhas ao chefe - leia-se mamadas) deveriam chamar Economatos Humanos ou Gestão de Economatos Humanos.

Mas como os tugas são um povo aguerrido, defensor dos seus direitos e batalhador pelo seu desenvolvimento, cada vez estamos melhor, com tendência a melhorar mais... ainda vou ver os estafetas a distribuirem cartas em Porsche Cayenne Turbo S

MS
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