Boa tarde aos leitores deste blog (que ou andam muito distraídos, ou então começaram a privilegiar outros sites na net em detrimento deste, o que até não é difícil)
Antes de tudo aquilo que vou escrever a respeito do tema que escolhi (e que já adivinharam pelo título que vou falar do tema "da moda"), quero desde já realçar uma coisa. Eu quero que a pequena Madeleine seja encontrada o mais rápidamente possível e que a angústia que eu sei que é grande por parte de muita gente, pais dela à frente, acabe.
A novela Madeleine, começada há já 21 dias, é sintomática de algumas coisas.
Em primeiro lugar, deu lugar à "fome" exasperada de variadíssimos orgãos de informação, pasquins nacionais e estrangeiros (ingleses sobretudo), em transformar tudo isto numa espécie de thriller conspirativo, com especulações e contradições diárias, para não dizer de hora a hora, sobre pormenores que na grande maioria dos casos não servem mais do que para "encher chouriços". O povo gosta. Os pasquins (em sentido lato e que abrangem televisão, rádios e demais) sabem disso e gastam dinheiro a rodos, desde pagar estadas (caras) a jornalistas no Algarve até preencherem até à exaustão os espaços informativos, porque básicamente sabem que há retorno. O público precisa de novelas. Daquelas da vida real. Com direito a suspense, remorsos, choros, sangue se possível, e fim imprevisível.
Depois, e independentemente do carácter trágico do acontecimento, é certo que há uma série de factores que levam a que este caso seja mediatizado ao máximo. A criança é inglesa, foi raptada num país relativamente estável económica e politicamente, e é extremamente foto-telegénica (daquelas com cara-de-anjo, o que ajuda sempre à coisa). Pergunto se o mesmo aconteceria se houvesse (e deve haver) um qualquer miúdo negro, raptado na América do Sul e filho de emigrantes.
Eu volto a frisar que toda esta situação é uma desgraça. Principalmente e como é lógico para a própria Madeleine (em primeiro lugar) e para a sua família. Eu tenho uma filha pouco mais velha com a Madeleine e assusto-me só de pensar que isto poderia eventualmente acontecer-me. Sinceramente, preferia dar um tiro na cabeça, na falta de o poder dar a quem pudesse fazer isso.
O que está aqui em causa é que todos os dias morrem centenas ou milhares de crianças pelo mundo fora, vítimas de maus tratos, fome e de problemas de saúde dos mais básicos. E quantos desses casos temos mediatizados até à exaustão como o caso específico da Madeleine? Quantas vezes vemos na televisão que na Etiópia, no Sudão, em Angola, em tantos, mas tantos países, há crianças que sofrem diáriamente as sequelas de um mundo cada vez mais injusto? E que mais uma vez, morrem sem que o mundo dito civilizado, se digne a prestar-lhes um centésimo da atenção que a pequena Madeleine tem. Isto para além daquelas galas mediáticas tipo Live-Aid que de tempos a tempos alguém se lembra de fazer.
Tudo isto me faz remontar aos meus idos tempos de juventude em que me lembro de um caso de uma garota americana que ficou presa no fundo de um poço e ao qual tudo o que era orgão informativo dedicava parangonas. Curiosamente, na mesma altura um tufão desolava o Sri Lanka tendo feito para cima de uma centena de milhar de mortos, mas nem por isso conseguiu esse trágico acontecimento suplantar em termos de "cabeçalho" a menina americana que estava presa no fundo de um poço. Na altura o Miguel Esteves Cardoso, escreveu a propósito de tudo isto um texto (brilhante) no extinto Independente chamado de "over-dó".
Os acontecimentos mediáticos trágicos tendem a ser tão mais mediáticos e difundidos quanto mais ocidentais, bonitos, ou ricos forem as vítimas. Só assim se explica que no ano de 1994 o mundo estivesse a par e passo informado e inconformado sobre a tragédia diária que se vivia na antiga Jugoslávia e deixasse de lado o muitíssimo mais mortífero genocídio no Ruanda. É que na Jugoslávia, com ampla cobertura jornalística, e amplo consenso e intervanção militar dos chamados aliados ocidentais, morreram algumas dezenas de milhar de pessoas. Trágico, claro. No Ruanda foram mortos um milhão de pessoas em tempo recorde - 100 dias. 10.000 pessoas por dia, portanto. Eram Tutsis os que morreram, e Hutus os que os mataram. Vá lá perceber o mundo ocidental o que é que isso significava.
A teoria da relatividade, explicada física e matemáticamente por Einstein, pode também ela ser aplicada aqui. Com diferentes parâmteros em que o E= MC2 é substituído por outra coisa qualquer que explique o, para mim, inexplicável.
Ultima nota para voltar à especificidade do caso. Eu não sou daqueles que defendem que as crianças são todas elas inocentes. As crianças, a partir de uma (tenra) idade ganham manha e algumas delas já conseguem demonstrar mesmo malícia. Vê-se isso muito cedo nas disputas ainda imberbes nos infantários. Mas não sendo 100% inocentes são muito, mas muito mais impuros do que os adultos, e como tal muito mais indefesas. Também Hitler, Estaline, os proprietários da Endemol (passe a comparação é claro), entre muitos outros, foram crianças e de certeza que não revelavam a filha-da-putice, o esquema fascizóide ou a mera estupidez que despontaram alarvemente em idade adulta. E é exasperante saber que há quem faça mal a crianças, assim como há quem faça deliberadamente mal aos animais. E para todas essas bestas, a justiça não era julgá-las em tribunal para as condenarem a 25 anos de prisão, com desagravamentos para 20, e saída da mesma após 15. A justiça era pô-los no meio de uma rua com muita gente e com um cartaz explícito sobre aquilo que eles fizeram. E depois logo se via se não ficariam, nos poucos segundos de vida que teriam, eternamente arrependidos.
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