Quinta-feira, 14 de Junho de 2007

As Fábulas

Caríssimos leitores,
 
Muito boa tarde/dia/noite a todos.
 
Ao longo da história da humanidade, a transmissão de verdades profundas do homem sempre foram transmitidas primeiro por via oral e, posteriormente, por via escrita. Refiro-me a lendas, mitos, folclore, fábulas, etc.
 
Em séculos recentes apareceram os irmãos Grimm, La Fontainne, Hans Christian Andersen, entre outros que, por intermédio de histórias infantis, procuraram transmitir valores mais elevados do comportamento humano. Já antes tivémos esse grande best seller, intemporal e obra de ficção que é a Biblia mas este não é o tema de hoje.
 
Uma das histórias mais conhecidas (e que, com certeza, todos ouvimos enquanto crianças) é a fábula da formiga e da cigarra de La Fontainne. A mensagem importante desta história tem a ver com as virtudes do trabalho e as suas recompensas, face a uma vida de vícios e depravação.
 
A pergunta que fazemos, no século XXI, tem a ver com a actualidade desta mensagem e da virtude do trabalho. Será que as mais valias da moralidade e da virtude ainda se aplicam hoje? Será que a mensagem de La Fontainne está tão moderna hoje como estava no século XVIII? Afinal, quem era La Fontainne? Um moralista? Um puritano? Um idealista? Um Filho da Puta? Um mentiroso?
 
Vamos ver:
 
De nome José Formiga, este tuga conseguiu, com dificuldade, terminar os estudos obrigatórios (definidos pelo governo português) e desde novo começou em busca de um emprego que lhe permitisse conseguir o esperado dele... uma familia, uma casa, um carro, um cartão de crédito, uma divida e uma grade de minis da sagres, bem frequinhas, no frigorífico.
 
Aos 18 anos Zé Formiga ingressou como aprendiz numa oficina de electricidade e artigos eléctricos e fazia parte das suas funções arrumar o armazém, “alombar” com as encomendas dos clientes, limpar o escritório e dar apoio a todos os mais velhos, na esperança que alguns conhecimentos conseguissem atravessar aquela névoa cerebral permanente causada pelo uso constante de “aditivos” de marijuana e cerveja com que regalava os seus neurónios a partir das 18.00h de cada dia, excepto fins-de-semana, quando começava mais cedo.
 
Com algum sacrificio, um salário baixo, isto é, médio por padrões portugueses, a viver em casa dos pais e com a ajuda de um empréstimo Cofidis, comprou um honda civic de três portas de 1991 e a quem dedicava todos os tempos livres (entre emprego e “pedradas” de chamón não ficava muito) no seu passatempo de tunning.
 
Aos 28 anos, depois de dez anos como aprendiz, teve a grande oportunidade e foi trabalhar para uma unidade industrial de cablagens para a industria automóvel. Era um emprego a sério, numa multinacional a sério... mas num país de brincar que era Portugal. Agora que se sentia mais seguro e confiante resolveu, contra o parecer de amigos e namorada, retomar os estudos. Ele sempre sonhara em ter uma licenciatura e, assim, com trabalho e dedicação terminou o 12º ano (provisório, de acordo com a Ministra da Educação) e conseguiu ingressar numa instituição de ensino superior privado no curso de Gestão Alimentar Avançada, digamos a Universidade Independente, já com a nova direcção.
 
Na sua vida privada, depois de passada a fase do tunning, do chamón, da discoteca e de total abstinência de leitura, Zé Formiga seguiu as regras da sociedade e da moral. Casou e deu origem a 2 rebentos, ranhosos e mal-educados. A sua mulher, que seguia atentamente os apontamentos da moda das revistas de qualidade como a Lux, Caras e afins, era empregada numa loja de roupa de marca espanhola.
 
Aos 38 anos, Zé Formiga terminou a licenciatura depois de noites mal-dormidas, sem férias (não havia dinheiro para férias e propinas) e finalmente deixou a linha de montagem e passou para os escritórios da dita multinacional (que gozava dos privilégios dados pelo governo em prole do engrandecimento da economia nacional – refiro-me a não pagar impostos, segurança-social ou cumprir as mais básicas regras de bem-estar da sua mão-de-obra). Zé Formiga foi sempre um homem de trabalho, que procurou amealhar e providenciar o futuro dos seus filhos. Com 45 anos, uma casa ainda a pagar e uma uma renault scénic com 7 anos (mas bem conservada) e 4.516 euros numa conta a prazo, Zé Formiga chegou ao escritório às 8.45h, como sempre fazia, e tinha na sua caixa de e-mail uma mensagem da Direcção Financeira e Consultoria com o seguinte texto:
        
“Na busca de uma constante melhoria da sua estrutura e benefício dos seus trabalhadores, a Direcção Europeia decidiu que um downsizing é o melhor caminho para o crescimento da empresa. De acordo com a directiva emitida pelo Conselho de Administração global, a pressão do mercado tem sobre-aquecido a nossa estrutura de custos, nomeadamente salarial, e por forma a manter a nossa paridade e equidade com os valores desejados para as nossas acções vamos iniciar um processo de reformulação e re-configuração do organigrama interno, inserido numa perspectiva de adaptação e flexibilização dos desejos do mercado e imperativos decididos pela directiva comunitária 325-A-15 de Agosto do presente ano. É por isso que, com orgulho, a Administração central da empresa anuncia que apesar de um aumento de lucros de 45% no passado trimestre, iremos com esta nova avaliação dos benefícios internos e modernização, passar a um aumento de 72% de lucros por mês.
Assim, é notar que trabalhadores desta instituição acima dos 40 anos deverão negociar os valores de indemnização para sua saída efectiva a partir das 14.30h de hoje.
 
P.S.: esta mensagem tem efeitos imediatos. Amanhã os restantes trabalhadores receberão uma mensagem a informar o fecho desta unidade industrial (que desde sempre abasteceu o mercado europeu) para sua transferência para o Bangladesh, onde a mão-de-obra é burra de fazer dó mas ganha incomensuravelmente menos. Essa deslocalização começará depois de amanhã!”
 
Com suores frios Zé Formiga percebeu que estava no olho da rua e receberia uma ninharia. Estava fodido! Que fazer? Nada. Talvez o seu amigo de longa data! Era isso! Iria procurar o seu amigo.
 
Quem era o seu amigo? Dava pelo nome de António Maria D’labosta Cigarra, dos famosos Cigarra de Lisboa e Arredores. Desde pequeno nunca fez um “chavelho” nem estudou. Era filho de juízes, neto de médicos, bisneto de militares e sobrinho de políticos.
 
Durante a primária travou amizade com o Zé Formiga, o que os pais achavam muito bem em nome da igualdade e de ajudar os pobrezinhos. Enchiam o Zé Formiga de sorrisos benevolentes e cínicos quando ele ía lá a casa desentupir as sanitas, em nome da amizade. Perguntavam-lhe sempre se era esse ano que finalmente ía de férias e quando ele, o Formiga, respondia que não tinha dinheiro respondiam-lhe invariavelmente que deveria trabalhar, que o Formiga devia seguir o exemplo deles para ir longe. “Já viste Formiga, nós vamos a Bora-Bora de seis em seis meses e trocamos de carro de topo de gama todos os anos graças ao nosso trabalho. Trabalhamos muito e poupamos ainda mais e depois colhemos o fruto!” diziam com ar condescendente de quem tenta explicar a teoria quântica a um bosquímano.
 
Formiga sempre achou isto estranho porque eles estavam sempre em casa ou no Algarve ou em festas do jet-set ou em cerimónias oficiais mas, achava o Formiga, deviam de facto trabalhar muito nos intervalos desta frenética actividade social.
 
Mas voltando ao António Maria Cigarra! Nos tempos de liceu foi considerado o melhor aluno do liceu o que ninguém achou estranho, nem mesmo o facto do tio-avô da parte do primo em segundo grau ser o Director do liceu. Na faculdade, as suas capacidades de liderança foram realçadas e as suas notas tornaram-se ainda mais brilhantes, não obstante nunca ir às aulas, liderava os colegas nas saídas nocturnas aos melhores bares e discotecas onde tinha sempre uma garrafa reservada. Nem mesmo o facto do Primo da parte da mãe ser o reitor da faculdade e de os pais, avós, tios, primos, irmãos, afilhados dos pais e amigos de familia terem sido os seus professores em todas as disciplinas (o seu pai, por exemplo, foi seu professor em 7 das 9 disciplinas do 5º ano e foi muito exigente com o seu filho) impediram que o seu brilhantismo viesse ao de cima e terminasse o curso com média de 19,5 valores (não chegou aos 20 valores porque falhava sempre a escrever o seu nome).
 
Quando terminou o curso foi convidado para o Conselho de Administração de uma empresa que, por coincidência, era propriedade de um tio e que tinha negócios com o Ministério das Obras Públicas, tutelado pelo seu primo. Desde que iniciou a sua actividade sempre se destacou por não pagar impostos, despedir pessoal, levar empresas públicas à falência e, naturalmente, a aparecer nas revistas de referência de gestão e, também, na Lux e Caras.
 
O destino dos seus ordenados chorudos era uma conta numerada nas ilhas Cayman, aplicações em fundos duvidosos em off-shore e, também, vários bancos na Suiça e Ilha de Man. Na sua vida, António Maria Cigarra sempre se orgulhou de não ter tido uma única ideia original e de ter gasto uma gota de suor em trabalho.
 
Quando saiu da empresa, às 14.30h e com um valor de miséria de indemnização, Zé Formiga dirigiu-se ao restaurante de 7 estrelas onde sabia que iria encontrar o seu amigo a terminar o pequeno-almoço. Quando lá chegou, António Maria Cigarra estava a sair e dirigia-se ao seu ferrari, último modelo.
 
-- Zé! Estás bom? Há tanto tempo?! Quando foi a última vez? Deixa ver... foi quando as canalizações explodiram com os pensos higiénicos da mana, de marca Dior? – disse Cigarra com um sorriso.
-- Já foi há algum tempo sim... mas António Maria Cigarra (nota do editor: dada a importância do personagem, sempre obrigou os amigos a tratarem-no pelo nome completo), estou com um problema. Sabes, eu trabalho na multinacional e hoje de manhã recebi um e-mail a dizer que devido a reestruturação iria ser despedido – referiu Formiga
-- Sim... ouvi qualquer coisa nesse sentido na última vez que estive a almoçar com o primeiro ministro... sabes, o primo Sócrates.
-- É pá! Tu sabes que trabalhei a vida inteira e poupei mas se for corrido agora estou desgraçado. É que as minhas poupanças não chegam para duas idas ao Continente. Podes dar uma ajuda? – pediu Formiga, pela primeira vez, um favor para salvar a sua família.
-- Ó Formiga, tu sabes que eu sou teu amigo... do peito pá! Sabes, não sabes? Mas também sabes que eu ando com muito trabalho e apesar de fazer parte da Administração da Multinacional e ter sido a minha empresa de consultoria que deu o parecer para isto eu estou de mãos amarradas pá! Eu não mando em nada e tu sabes. Acho que a culpa é do porteiro mas esse tipo nem fala uma lingua decente... é Ucraniano, o cabrão! Mas tem calma pá! O Primo Sócrates disse que vamos no bom caminho e que com a minha ajuda ainda chegávamos lá mais depressa e olha que eu estou a pensar em ti. Tenho grandes planos para ti – disse António Maria Cigarra.
-- Mas amigo, eu estou à rasca é agora! Não podes dar uma ajuda? É que a mulher está grávida outra vez, não estávamos à espera e...
-- Ó Formiga! Nem penses em aborto ouviste! Sabes que eu sou contra essas coisas de assassinos e não-sei-o-quê. Sou a favor da vida e além disso onde comem quatro, também há para mais um não é verdade? Tu não te desgraces homem porque isso do aborto é mesmo para gente pobre – disse António Maria Cigarra, com ar enojado e a pensar que a gente pobre é mesmo irritante com este hábito horrível de se reproduzir quase às ninhadas.
-- Mas Antó... – começou o Zé Formiga.
-- É pá, foi mesmo bom ver-te. Temos de nos encontrar mais vezes mas agora vou ter de ir. Tenho um avião à espera. Eu vou com o primo Sócrates a uma visita de estado aos Estados Unidos e passamos ainda pelo Quénia... acho que ele quer fazer mais um safari, o meu primo. Tu sabes como ele é. Precisa mesmo de descomprimir devido ao trabalho que tem. Mas está descansado pá. Eu estou mesmo a pensar em ti e vou-te arranjar uma coisa mesmo boa – disse António Maria Cigarra enquanto pensava para os seus botões “a limpar fossas assépticas, meu grande parvalhão! És mesmo chato Formiga... da-se!”
 
Esta é a fábula moderna sobre a virtude do trabalho, da dedicação, do esforço, do valor maior da moral e da virtude!!
 
Ó La Fontainne... e se fosses para a puta que te pariu mais as tuas ideias que o trabalho compensa? És mesmo um grandessíssimo alarve, meu animal!
 
Voltarei em breve
 
Um abraço
 
MS
publicado por GERAL às 18:04
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Sexta-feira, 8 de Junho de 2007

As taxas

Caríssimos leitores,
 
Muito boa tarde/dia/noite a todos.
 
Ora bem, a minha veia de escárnio e mal-dizer está a vir ao de cima... outra vez!
 
As taxas de juro, definidas pelo BCE, aumentaram de novo. Apesar de não ser um grande tema ou, sequer, novidade (já nos vamos habituando a estas coisas dos aumentos consecutivos), resolvi trazer este assunto à “baila”.
 
É escusado referir os problemas que este aumento vai trazer aos portugueses. Esses são já bem conhecidos: aumento das prestações da casa, cada vez menos dinheiro para aquelas coisas “desnecessárias” como água, luz, gáz e... comida. Enfim, há que manter o miserabilismo português no seu melhor.
 
O que me incomoda particularmente não é o aumento das taxas, essas são expectáveis face ao egoísmo e ganância do mundo financeiro e económico. O que me incomoda são as promessas de novos aumentos apenas para evitar o “sobre-aquecimento” da economia e, também, o facto de aparecer mais um aumento sem, considero, qualquer necessidade.
 
Em primeiro lugar o que é essa questão do sobre-aquecimento? Estaremos a falar de alterações climáticas? De emissões de dióxido de carbono? De um aumento da temperatura média para 43ºC?
 
Não me parece!
 
Aquilo que os “génios” da economia dizem é que é perigoso que a população tenha dinheiro por causa da inflação. A lógica é, de forma simples, “se-eles-têm-dinheiro-compram-as-coisas-à-bruta-e-os-preços-aumentam-logo-vem-aí-esse-bicho-mau-que-é-a-inflacção-e-depois-temos-de-aumentar-os-salários”.
 
Eu pensava que o objectivo das nações (e dos mercados) era o enriquecimento da sua população. Quanto mais dinheiro a população tiver mais dinâmico é o país e o seu mercado. Mas pensava de forma errada! Aparentemente os “simplórios” da população não podem ter dinheiro no bolso caso contrário causam problemas de proporções bíblicas, tipo as pragas do egipto. É quese eu tiver dinheiro no bolso deixo de comer (e de comprar comida) para ir passar férias à lua ou começar a comprar cuecas com sabor a sagria ou, quiçá, com um massajador peniano!
 
O que me estão a dizer é que eu, pobre e teso tuga, não sei o que fazer com o dinheiro enquanto que a elite existente já sabe o que fazer com ele. Caso ainda não se tenham apercebido, nesta terra estranha necessitamos de alguns bens “secundários” tipo: casa, comida, roupa, tachos, panelas, etc! Por enquanto dispensamos os relógios de cuco de platina ou das cuecas feitas com fios de ouro ou relógios de brilhantes que são comprados por essa tal elite que sabe o que fazer ao dinheiro.
 
Por outro lado, e continuando a seguir algumas linhas de raciocínio económico (se é que ele existe!), eu pensava que a solidez económica das famílias resultava na solidez económica das nações uma vez que usavam o dinheiro que vai além das suas necessidades na compra de bens que justificam a existência das empresas, isto é, que existia uma relação de dependência entre famílias e empresas. Por outras palavras, é com o dinheiro que elas têm que compram os bens produzidos pelas empresas e que justifica a sua existêcia.
 
Mas estou enganado e aí tenho que reconhecer a minha ignorância. Parece que a palavra de ordem, actualmente, é a sobrevivência das empresas sem que as familias comprem os bens por elas produzidos. Digamos que é uma sobrevivência miraculosa, tipo o milagre dos pães da economia!
 
Hoje em dia o lema é crescer, crescer, mesmo que não exista dinheiro para comprar o que produzo!
 
É no minimo estranho e no máximo uma das maiores mentiras e filhas-da-putice da economia!
 
Dizem os “génios” (mais uma vez eles, não eu, que não sou nem quero ser génio) que as coisas não podem ser assim tão lineares nem vistas de uma forma tão simples... mas sabem uma coisa? É que são mesmo!
 
Eles conseguiram levar até à exaustão a ideia de que os mercados se adaptam e são fluídos e não estáticos. É verdade, são sim senhor! Mas o que mais incomoda é que hoje em dia, os governos não têm os “tomates” para tomar qualquer decisão sem pensar no Mercado, essa coisa flexível e adaptável. Vejamos alguns detalhes:
1.     Os mercados são adaptáveis e são, essencialmente movidos pela ganância dos seus actores, isto é, é o desejo de ganhar dinheiro que leva as empresas a produzirem mais bens, maior diversidade e ao nascimento de novas empresas e novas oportunidades;
2.     Dizem-nos que política é a ciência de “gestão” dos países, garantindo a seguraça, crescimento e defesa dos três pilares da nação: população, território e cultura;
3.     ou seja, o mercado é a defesa dos interesses materiais e crescimento económico dos seus actores, enquanto que política é a gestão do bem estar comum e da nação, nação esta onde o mercado está inserido.
Ergo:
  1. o bem estar de muitos sobrepõe-se aos interesses do mercado;
  2. este só existe porque existem populações, afectas a uma nação, dirigidas por políticos;
  3. seria absolutamente natural, então, que os políticos tomassem a decisão mais acertada aos interesses da população e o mercado adaptava-se a essa decisão.
 
O que estou a tentar dizer é que a preocupação fundamental da classe política DEVERIA ser o interesse e bem-estar da população e o mercado faria aquilo para que nasceu, a adaptação a essa realidade. Se não existirem pessoas não existe mercado, se não existir dinheiro ninguém pode comprar os bens oferecidos por esse mercado. É que nunca, em nenhum momento, apareceu um mercado que se preocupasse com as populações. O que existe é um mercado que segue uma lógica puramente mercantilista: tens dinheiro para comprar os bens que te ofereço, muito bem, estou presente. Não tens? Azar, vou para outras bandas!
 
Isto é tão verdade quanto os exemplos trazidos pela globalização. Se o mercado tivesse outra preocupação que não o lucro puro e duro, nunca se daria a deslocalização das indústrias uma vez que estas trazem despedimentos e empobrecimento. No entanto nunca houve qualquer tipo de consideração social no momento da decisão da deslocalização... e é mentira quando dizem que há! MENTIRA, descarada e mal-intencionada!
 
Eu sei que estou a tocar as fronteiras da blasfémia com ideias que se assemelham a comunistóides mas não são. Tratasse apenas de um exercício de humanismo (que é totalmente diferente das teorias comunistas).
 
Para podermos ter a percepção da questão do mercado eis mais um exemplo: quando pegamos num dicionário e procuramos as definições de capitalismo e comunismo, como regimes políticos, vemos que a grande preocupação dessas definições tem a ver com a sua ideia de mercado. Não se tratam de ideais, defesa da população, construções ideológicas, mas sim como o mercado é visto. Isto é particularmete perigoso quando consideramos que o mercado (que apenas tem alguns milhares de agentes) define as regras de milhões de pessoas. Podemos, pois, aferir que actualmente não existe política nem acção política. O que existe é apenas uma manifestação do mercado, sendo a classe política apenas mais uma extensão dos mesmos.
 
Esta ideia choca-me mais, não pelo facto de ser uma realidade e uma consequência dos interesses do mercado, mas sim pela cobardia das populações, dos milhões de miseráveis que se arrastam neste lodo primevo económico e que não fazem nada. É uma questão de condicionalismo psicológico. Sem qualquer desejo de ofensa, isto é o mesmo que aqueles casais em que o homem bate nas mulheres e filhos e ninguém faz nada e quando confrontadas com uma alternativa as vítimas até exclamam “ele até é uma boa pessoa mas de vez em quando tem estas coisas, coitado!”.
 
Pois é. O mercado também é “uma boa pessoa” mas de vez em quando tem estas coisas, coitado!... pena é que “estas coisas” sejam todos os dias.
 
Últimas notas. Eu venho publicamente louvar o papel das gasolineiras em Portugal, lideradas pela GALP, no seu combate ao aquecimento global: é que com o preço exagerado e exorbitante do litro de combustível qualquer dia não existe dinheiro para comprar a “gasosa” logo não andam carros nas ruas e combatemos, definitivamente, o aquecimento global. Eu é que no passado fui muito má-lingua quando critiquei o aumento constante de preços dos combustíveis e não me apercebi desta “nuance”. Lamento e por isso me retrato publicamente. As gasolineiras não estão aumentar os preços apenas porque querem aumentar os lucros, estão a tratar do bem do planeta!!
 
Assim como os “analistas” económicos falam que as taxas de juro ainda deverão aumentar mais umas duas vezes (embora seja expectável que as taxas de juro cheguem aos 5% - eles dizem expectável com um ar sério e olhar de barracuda pois sabem que esse é o objectivo final, de há 2 anos a esta data), também eu, “como analista”, afirmo que é expectável que o preço da gasolina sem chumbo 95 chegue a um valor de 1,5 euros. Sabem, é que já há muito tempo que os especialistas do petróleo “pensam” que é provável que o preço do barril chegue aos Usd 100 por barril. E é nesse sentido de “probabilidade” que qualquer desculpa serve para aumentar o preço do petróleo. Se o Xeique Abul Na-Conassa está com prisão de ventre, aumenta o preço, masse o mesmo Xeique tem um caso de soltura intestinal, aumenta também... hum! Deve ser um problema de merda!
 
Voltarei em breve
 
Um abraço
 
MS
publicado por GERAL às 14:36
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Segunda-feira, 4 de Junho de 2007

Computadores e coisas afins

Caríssimos leitores,
 
Muito boa tarde/dia/noite a todos.
 
Já há algum tempo que não vinha a este espaço de escárnio e mal-dizer deixar as minhas diatribes. Não o fiz porque resolvi descansar e não por qualquer outra razão superior (ou inferior, tanto faz).
 
Enquanto estive “parado” nesta arte da escrita observei. O país e o mundo não mudaram nada. Continua alegremente no seu caminho da estupidificação de massas e gestão governativa danosa... mas creio que é o normal e o esperado.
 
Mas qual é o tema que me trouxe hoje aqui? Mais uma vez tem a ver com os “brilhantes” governantes com que fomos abençoados. O debate mensal da semana passada – um dia depois da greve geral – levantou um tema que deverá ser fundamental e imprescindivel para o sucesso e crescimento deste país, à beira-mar plantado (ou evacuado se preferirmos), o acesso a computadores portáteis e internet, a preços convenientes.
 
Não consideremos que a nossa taxa de desemprego actual é a mais elevada dos últimos 20 anos; desliguemo-nos do facto de termos a 3ª inflacção mais elevado da UE dos 25; borrifemo-nos para o facto de termos a maior disparidade entre ricos e pobres da UE; caguemos no facto de o nosso crescimento ser dos piores da UE; ignoremos que a nossa taxa de crescimento continua (e continuará) a ser mais baixa que a média europeia o que leva a um afastamento cada vez maior; deixemos para trás a realidade da perca de poder de compra real; nada disto interessa! O que é importante é o acesso à internet e o portátil. Isso sim, é importante!
 
Diz o governo que vai facilitar o acesso a computadores portáteis e internet de banda larga a preços convenientes, isto é, sem valor inicial de entrada e o acesso a um máximo de 15 euros, dependendo apenas dos rendimentos do agregado familiar. Como sou português desconfio destas promessas e porquê?:
- em primeiro lugar porque os cálculos de custos efectuados pelos governos nunca dizem o custo total.
- em segundo lugar porque os diplomas que consagram este tipo de acções nunca são claros nem explicitos, dando espaço a diferentes e opostas interpretações, nomeadamente sobre o que é o fácil acesso e o que significa baixo custo.
- em terceiro lugar porque nunca são definidas as responsabilidades dos fornecedores de acesso à internet nem qual é a sua cobertura real do país.
- finalmente, em quarto lugar, nunca dizem se o preço é com ou sem IVA.
 
Ora vejamos: o país está de rastos, a população cada vez mais empobrecida e miserável, o desemprego é uma realidade incontornável... e a resposta do governo é, pasme-se, comprem computadores portáteis mais baratos e vão para a internet. Ora bem! Já está! Uma bilhante solução... pena que não existisse a internet no tempo de Salazar porque se calhar o homem nunca teria sido contestado.
 
Nos últimos tempos temos assistido à delapidação do pouco que ainda temos no país, vemos autênticos atentados aos princípios de liberdade que, dizem eles, são os fundamentos base da famosa revolução do 25 de Abril e os tugas, no seu tradicional miserabilismo, continuam a seguir calmamente o seu caminho como se de parelhas de bois se tratassem, a quem se pode agredir que os bichos nunca se revoltam.
 
Assisti recentemente a uma verdadeira pérola nesse sentido. Trata-se da tentativa de criar uma base de dados de grevistas, com a respectiva identificação. Era, segundo eles, apenas por uma questão de estatística. Parece que, no meio da imbecilidade judicial portuguesa ainda aparece alguém com 2 dedos de testa que confirma a ilegalidade da medida. Foram os mesmos que no tempo de Cavaco Silva enquanto primeiro-ministro foram para a ponte Salazar/25 de Abril berrar aquando do buzinão que agora dizem, indirecta e disfarçadamente, que a greve é um atentado... hipocrisia até onde chegas!
 
Todos os dias, quando é conveniente, vemos governantes pseudo-esquerdistas do PS clamar pela vitória e legado do 25 de Abril, como tendo sido um legado da liberdade, uma conquista de um povo oprimido, um ataque a Salazar esse “pequeno filho da puta de segunda categoria” como tão bem refere JLM nalgumas das crónicas que aqui já apresentou. Que tal pensarmos um pouco sobre o assunto? Vamos?
  1. quando o 25 de Abril ocorreu, Salazar já tinha morrido há 5 anos e quem detinha o poder era Marcelo Caetano que, segundo os iluminados da política nacional, era um moderado que, inclusivé, deu origem à “primavera Marcelista”, lembram-se? Ou seja, os organizadores do 25 de Abril nem tiveram a coragem de o fazer no tempo de Salazar o que, no léxico português também se conhece por cobardia.
  2. quem está por detrás do famoso golpe de estado no caminho da liberdade não é um grupo de cidadãos e políticos que, na sombra, sofriam pela pobreza do povo e pelo seu sofrimento. É um grupo de militares que, descontes com as suas possibilidades de progressão de carreira devido à guerra colonial, resolveram lutar pelos seus direitos profissionais. O problema é que quando anunciaram na rádio para a população ficar em casa, o tuga – bicho curioso que é, que não se coíbe de parar na A1 para ver um acidente do outro lado, em sentido contrário, assim causando uma enorme fila de trânsito – teve de vir para a rua para ver o que se passava, se era uma revolução ou um outro qualquer arraial de Santo António. Considerando a classe política de então – nova, corajosa, motivada, prenhe de ideias renovadoras – é natural que os tipos tenham logo fugido a sete-pés. E quem deixaram no seu lugar? Quem foi? Os filhos deles, claro! Outras pessoas brilhantes que foram educados por esses “bandidos” de antigamente mas que apesar de tudo não padeciam dos mesmos males.... ridiculo não acham?
  3. como inesperadamente o poder caíu – nem os militares queriam, nem a população esperava – literalmente na rua, não existiam planos políticos para levar o país por um novo caminho. Neste vazio de poder, o único partido político devidamente organizado e estruturado era o Partido Comunista Português, liderado por esse grande Mujhaedin do Portuguistão, esse freedom fighter da Lusitânia, o único e grande Viriato da União Soviética... Álvaro Cunhal (que está apenas a 0,01 pontos percentuais abaixo de Salazar na escala da filha-da-putice). Seguindo os preceitos da doutrina da sua terra de origem, havia que nacionalizar, depois dominar a super-estrutura para finalmente reconstruir a infra-estrutura. Nessa altura era ver todos os que “lutaram” por um país melhor (ahahahahahah.... ai! Até me vieram as lágrimas aos olhos de tanto rir) a andar na rua, de punho erguido e barba comprida a falar pelo proletariado contra o capitalismo... como se eles soubessem o que isso era, uma coisa e outra.
  4. é também nestes anos quentes que os filhos dos antigos criminosos de direita (leia-se políticos do antigo regime) assumiram a direcção do país... e 30 anos depois estamos na mesma situação que estávamos a 23 de Abril de 1974. de facto Kondratief tinha razão quando desenvolveu a teoria dos ciclos históricos!
 
O que é mais curioso é que quando apontamos as ineficácias da actual situação, quando apontamos os erros decorrentes desde este período, invariavelmente aparece alguém a dizer: “ainda estamos a aprender a liberdade de Abril”! devemos, de facto, ser o povo mais burro da Europa se, passados 30 anos ainda não aprendemos a reconhecer os incompetentes que nos governam... os outros aprendem mas nós não!
 
Nesse sentido Sr. Primeiro-Ministro, não vale a pena dar portáteis e internet a ninguém porque a malta ainda pensa que aquilo é uma torradeira de micro-ondas e começa logo a trautear a musica do Quim Barreiros: “Ò lisete! Mete a disquete, que eu estou bem é na internet”!
 
Finalmente, algumas linhas acerca de um outro assunto: no debate da Assembleia, quando confrontado por Paulo Portas acerca dos outros custos associados à OTA, respondeu o Zé que ele nem deveria fazer essa pergunta uma vez que tinha estado num Governo que, inclusivé, tinha enviado os documentos à UE para receber os fundos comunitários. Posso até concordar que o Paulito das feiras esteve nesse dito governo e que deveria saber.... mas ó Zé! Eu não estive em nenhum governo e gostaria de saber quanto é que vai ser a factura total da OTA. Porque é que não posso saber? Não me dizes? É por eu ser apenas mais um da plebe e tu, alimária galáctica, não falas com a plebe?
 
Ups! Tenho que ter cuidado com o que digo a respeito do Zé... ainda posso ser suspenso de funções e demitido, ao melhor estilo Salazarista. Creio que não tenho que referir o nome de Aristides de Souza Mendes que, por não ter concordado com Salazar foi demitido. Parece que pelo menos no norte do país as coisas já funcionam assim... mas devo ser só eu que acho!
 
Voltarei em breve
 
Um abraço
 
MS
publicado por GERAL às 15:27
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