Sábado, 28 de Junho de 2008

Adeus Scolari

 

Adeus Scolari de Portugal
 
 
Eis-me de volta com um tema tão do agrado dos portugueses em geral, e do meu em particular – o pontapé na bola. Básicamente, sou o unico escrevinhador neste humilde espaço que se debruça sobre esta tão importante manifestação socio-patológica, particularmente manifestável na Tugolândia, mas enfim... gosto mesmo de futebol. É pena, dirão alguns de vós
 
Dos 10 milhões de portugueses que vivem aqui neste rectângulo à beira mar plantado, e com as supostamente costas quentes guardadas por essa espécie de pseudo-nação-maldosa que é Espanha, que já era melhor do que nós em tudo, e agora até no futebol o é, eu sempre fui um dos 435 tugas que criticou ferozmente o Sr Scolari. Já o fiz neste espaço, e para manter a coerência volto a fazê-lo, numa altura que me parece apropriada.
 
Estava Portugal contente e esperançado da vida antes mesmo do começo do Euro2008. Muitos já pensavam que éramos campeões antes mesmo de o sermos (e já agora, que não seremos). E confesso que depois das primeiras vitórias e exibições da nossa selecção (contra essas referências mundiais do panorama futebolístico que são a Turquia e a actual República Checa) até eu me entusiasmei pelo facto de a selecção ter jogado benzinho. Bom, depois veio a derrota contra a Suíça, país organizador, mas com uma equipa me(r)diana, e logo por 2-0, e calhou-nos a Alemanha, tendo eu prognosticado desde logo que não passaríamos. Não porque a Alemanha seja assim um papão tão grande. Já o foi. Nos tempos em jogavam um Klinsmann, um Matthaus, um Moeller, um Rummenigge, um Augenthaler, um Bremhe ou um Littbarski, só para referir alguns. Hoje em dia têm um Ballack e muito pouco mais. Mas apenas porque tinha a (quase e infeliz) certeza que mais uma vez, sem a ajuda da Nossa senhora do Caravaggio, Portugal não teria uma liderança capaz de suplantar uma equipa tácticamente forte e, importante, muito mais humilde do que a nossa.
 
Levámos pois dos “hunos” 3-2, e saímos de cabeça baixa e muito merecidamente.
 
O saldo final deste Euro2008 para Portugal salda-se em 2 vitórias e 2 derrotas. 6 golos marcados e 5 golos sofridos. 2 exibições boazinhas, e 2 exibições medíocres.
 
O reinado de Scolari chega ao fim, e chega ao fim felizmente para a equipa das quinas.
 
Durante 6 longos anos, o povão adorou-o, lambendo-lhe a peidola, e nem sequer o criticando quando o merecia, tendo havido muitas vezes em que o mereceu.
Durante 6 longos anos, o Sr Scolari fez o que quis, como quis, quando quis, tomando decisões de lesa-pátria que qualquer um treinador dito-normal nunca tomaria (apenas como exemplo o não ter levado o Qauresma para o mundial de 2006 quando tinha sido de longe o melhor jogador da liga portuguesa – em vez disso levou o Boa Morte que fez triste figura nos palcos alemães)
Durante 6 longos anos, o Sr Scolari auto-promoveu-se em anúncios publicitários pagos a peso de ouro, e sendo orador (bem pago) em diversas instituições onde o mote era liderança, motivações e afins
Durante 6 longos anos, o Sr Scolari tentou várias vezes fugir das suas responsabilidades, tendo inclusivamente às portas do mundial 2006 arranjado maneira de encetar conversações com a Federação Inglesa de Futebol.
 
E nós, panhonhas, sempre o perdoamos, e inclusivamente, glorificamos.
 
Nunca entendi muito bem as razões para tal.
 
2º lugar num campeonato da Europa realizado em portugal quando tínhamos provávelmente o melhor naipe de sempre de jogadores ao serviço da selecção? Tendo perdido na final com uma equipa reles, depois de já termos perdido com a mesma na primeira fase da competição? Ultrapassando a Inglaterra nos penálties? Tendo tido todo, mas todo mesmo, o apoio de todo o Portugal, sabendo quais deveriam ser as debilidades do adversário? Jogando depois na final aquele que foi provávelmente um dos piores, senão o pior jogo que já vi de Portugal (a melhor oportunidade foi um remate que passou 3 metros ao lado da baliza). Ocasiões destas – ter um naipe de excelentes jogadores, jogando em casa na final contra uma equipa sofrível – só acontecem uma vez e são de aproveitar. Ele não aproveitou. 2º lugar? É o primeiro dos ultimos.
 
4º lugar na Alemanha com quase o mesmo naipe de jogadores? Tendo tido uma primeira fase a jogar contra monstros do futebol como Angola, Irão ou México? Depois batalha campal contra a Holanda e mais uma vez penalties ganhos contra a Inglaterra? Claro está que depois de tão difícil como sortuda missão perdemos jogos contra equipas a valer. Mas um 4º lugar é um 4º lugar dir-me-ão. E eu direi que é o 3º dos ultimos.
 
Depois termos sido seleccionados para o Euro2008? Onde não ganhámos um, repito, UM jogo contra nenhum dos nossos adversários mais directos (e tããããão difíceis que eles eram...Sérvia, Polónia, Finlândia, todos eles com diversos Ronaldos, Decos, Quaresmas, Nanis, Simãos, Ricardo Carvalhos, Bosingwas a jogar lá) tendo Portugal corrido o risco de ser eliminado no ultimo jogo contra a Finlândia quando a 3 minutos do fim viu uma bola a passar um metro ao lado dos postes da baliza. Salvou-se em todas as elimminatórias o “quase soco” de Scolari a um jogador Sérvio. Quase-soco do tipo “quase-ganhei-o-campeonato-da-Europa-em-2004” .
 
E depois, o que vimos agora na Suíça.
 
Scolari sempre protegeu os seus meninos queridos. É por isso que pôs o frangalheiro Ricardo na baliza, grande co-responsável pela derrota da Alemanha. Digo co-responsável porque responsável mesmo é Scolari. Que não se coibiu de pôr outros dele queridos a titular como o Simão que não jogou um corno no jogo contra a Alemanha, ou um Paulo Ferreira (que ele fez questão de dizer que seria o primeiro dos convocados antes mesmo da lista geral sair) que deu casa durante todo o campeonato. E é por causa também, mas não só dessa casmurrice, e desse verdadeiro conluio pseudo-emocional, que lá nos afundámos outra vez.
 
Provávelmente estarei a ser injusto se não referir o que Scolari fez de bom enquanto cá esteve. Foi a única pessoa que pôr 70% da população portuguesa a pôr bandeiras na janela. Se pensarmos bem, os portugueses não têm assim tantos motivos para pôr bandeiras nas janelas, algo que noutros países acontece com frequência seja porque motivo fôr, ou mesmo não havendo motivo nenhum. O futebol é o nosso ópio, e talvez uma das poucas razões do nosso contentamento. Só que eu não consigo é perceber o porquê e de estarmos contentes com o nosso futebol, mas isso deve ser erro meu, com toda a certeza.
 
Por outro lado, Scolari sempre se protegeu e aos amigos. As consequências vêem-se. Mas muitos (que não eu) referirão que isso é positivo. Diz-se que pôs presidentes de clube que interferiam na selecção na linha. Pois...se eles interferiram por exemplo no campeonato da Europa de 2000 onde fomos de longe, com mérito, a melhor equipa, eliminados por um AZAR, então, venham as interferências pá, que eu não me importo.
 
Finalmente nestas coisas boas que ele andou cá a fazer...bom...já referi que alguns dos anúncios televisivos eram patéticamente engraçados?
 
Por tudo o acima, Scolari de Portugal, vai-te, e vai com sorte para o Chelsea. Essa contratação que quiseste ver anunciada durtante mesmo a realização do Euro2008 quando dias antes tinhas proibido outros (jogadores, nomeadamente) de falarem durante o Euro sobre hipotéticas contratações para a próxima época (já agora, engraçado ter visto o suposto menino-bonito Ronaldo a falar do suposto enamoramento com o Real Madrid, minutos depois da eliminação com a Alemanha...não se ensina respeito no balneário..??..). Frei Tomás não faria melhor, Mister Scolari. E, Scolari de Portugal, tenhas mesmo muita sorte, porque talento nem por isso terás porque nunca o tiveste. E não penses que em Inglaterra vai ser como cá. Os bifes não gostam de lamber cús a ninguém. E a imprensa inglesa não é tão doce e subalterna como a portuguesa. É bom no entanto que não saibas o mínimo dos mínimos de inglês pois assim, não ficarás chateado quando os jornais tiveram expressos na sua primeira página um “fukk Off Filipe”. Pode inclusivamente acontecer que penses que é um elogio. Não me admiraria. E o Abramovich pá, o Abramovich quer é equipas que dêem guito. Aquilo é outro campeonato, e não estás preparado para tal. Dou-te 6 meses, vá lá, uma época, antes de levares aquilo que os comentadores portugueses designaram de “chicotada psicológica” (aqui para mim, designação mais ridícula era difícil de se encontrar).. Pode ser que me engane. Mas mesmo que não me engane, terás com certeza um Portugal inteiro para te receber e voltar a dar, sem mácula, o cargo de treinador da equipa das quinas pelos bons serviços prestados à nação. Nós somos assim pá. Reconhecemos sempre quem tem mérito. Nem que seja para seu proveito próprio.
 
Adeusinho, e please...don’t come back (traduz lá esta)
 
Beijos e abraços para os leitores que decerto me crucificarão por tão mal ter dito daquilo que é um símbolo nacional, possívelmente com direito a estátua (não me admirava NADA)
 
JLM
publicado por GERAL às 21:17
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Sábado, 14 de Junho de 2008

A queda do 2º Império

 

E hoje? Estão bonzinhos?? Mais bem dispostos com os resultados da selecção?? Conseguiram, durante hora e meia (mais 3 horas de festa) esquecer a crónica falta de dinheiro?
 
Eu ando chato, é verdade mas depois do meu último artigo – longo – que vos pôs à beira da inconsciência intelectual resolvi voltar a escrever umas coisitas mas garanto que este é mais pequeno... embora deva voltar ao tema porque é vasto.
 
Hoje vou falar um pouco acerca da queda do 2º Império!
 
Mas que raio de Império é este? perguntam vocês entre duas dentadas numa sandes de couratos... porque o dinheiro não dá para almoçar todos os dias.
 
Bem, antes de mais eu tenho que começar por vos explicar o que considero o 1º Império:
 
O passado da Europa é rico cultural, social, politica, economicamente e militarmente e o seu marco fundamental é, sem dúvida, o Império Romano. Toda a Europa foi condicionada por estes tipos que apareceram da península itálica e conseguiram criar o maior império europeu. Não existe nenhum País, hoje, que não tenh sido influenciado pela tradição e história dos tempos romanos.
 
Foi, de facto, este império que deixou um legado de cultura mais ou menos unificada, um legado jurídico comum, de lingua comum e que marcou indelevelmente a génese europeia. Sob a pax romana, a europa – na altura meras províncias do império – tornou-se o centro do saber moderno do mundo. Capitalizando os conhecimentos adquiridos aos gregos, aproveitando a fragmentação tribal de então, Roma criou um estado unificado onde a livre circulação e o comércio eram a pedra fundamental da arquitectura romana. Mas sobre toda esta aparente harmonia imperial estava o gládio e a sandália cardada dos legionários. É que apesar de umas ideias mais liberais para a altura e um conceito de globalização muito próprio, os romanos não eram parvos e para manter a população no “bom caminho” tinham que estar sob o jugo das legiões... é que a preguiça não foi uma invenção portuguesa do século XVIII.
 
Começando como uma Republica, Roma depressa se tornou o centro do mundo antigo. O seu legado reflecte-se na lingua, literatura, códigos legais, estilos e formas de governo, arquitectura, engenharia, medicina, desporto, arte, etc. Depois da sua queda, muitos têm tentado re-erguer das cinzas este colosso, esta época dourada do mundo antigo. Refiro-me, claro, ao Sacro Império Romano – que não é mais que uma tentativa de recriar o Império do Ocidente, tendo como expoente máximo Carlos Magno, coroado Imperador cerca do ano 800 e foi de tal modo importante a sua coroação pelo Papa Leão III que esse dia passou a ser o dia de natal (estão a ver que o dia do nascimento de Cristo foi um “bocadinho” manipulado, politicamente falando). O império romano contribuiu com várias coisas, entre as quais o calendário com anos bissextos, a instituição cristã. A extensa rede rodoviária construida pelo exército romano dura até aos nosso dias. Devido a este rede de “alta velocidade”, diria eu, o tempo de viagem entre os destinos da Europa só diminuiu durante o século XIX, com a introdução do vapor.
 
Como vemos, o 1º Império é um dos marcos mais importantes da história da humanidade...
 
Mas qual é, afinal, o 2º Império?
 
Bem, este começa na década de 50 do século XX e refiro-me, claro está, ao pacto do carvão e do aço e que está para a Europa de hoje como a República estava para o Império Romano.
 
Seguindo uma filosofia em tudo semelhante, a pouco e pouco o 2º Império tem crescido passado por denominações como CEE (Comunidade Económica Europeia), CE (Comunidade Europeia) e agora UE (União Europeia). As primeiras fases foram um absoluto sucesso porque o principio inerente era económico, isto é, o interesse de todos os participantes centrava-se no respectivo crescimento económico em que o sucesso individual de cada um dos países servia de trampolim para os restantes. Quando, no seio dos países membros, se garantiu a livre circulação de bens e pessoas dentro do espaço comunitário, todos entendemos isso. Afinal a Europa tem uma raiz comum, uma história comum e que, apesar de ser o continente com mais ódios de “estimação” por km2, tem uma capacidade de tolerância entre-Europeus que não é comparável em mais nenhum ponto do globo.
 
Mas começa a surgir um “pequenino” problema. Ao ser criado um organismo público (outra herança romana, que desenvolveu o serviço público e colecta de impostos como nenhum outro... com excepção da actual UE) que tinha necessariamente de regular e coordenar os esforços económicos comuns, abriu-se a porta ao funcionário público que quer chegar ao poder e quanto maior for o território a gerir, mais ele ambiciona o poder. Com os sucessos alcançados até então, a mente de funcionário público começa a funcionar e a pensar que acima de tudo era fundamental politizar a comunidade europeia. Quanto mais política ela fosse, mais fácil era o seu acesso ao poder e mais estanque se tornava quanto a processos de controle... para além de afastar o cidadão europeu de toda e qualquer decisão. Sim, infelizmente a política serve apenas para isso, para afastar o cidadão de qualquer decisão tornando-o numa amálgama de impostos e trabalho pronta a ser explorada!
 
Têm sido tomadas todas as medidas – mais ou menos óbvias – para tornar o projecto Europeu numa instituição política supra-nacional em que, com a desculpa de apoio financeiro mutúo (do qual Portugal tem sido um ávido receptor e sem o qual já teríamos vendido este canto à beira-mar plantado), se pretende criar um 2º Império do Ocidente. E aqui surgem os problemas!
 
É que se os europeus se toleram economicamente, se se entre-ajudam quando necessário, odeiam-se politicamente. Cada um dos países tem uma história longa, rica e envolvente; cada um dos estados membros tem o seu quinhão de um antigo e magnifico império... e nenhum deles quer abdicar de tal e isso é perfeitamente natural.
 
Além disso, face à adversidade internacional, este “novo” 2º Império (que inclusivé pretende o alargamento territorial em tudo semelhante ao império romano) tem mostrado a sua incapacidade de resolver os problemas. A resposta a este terceiro choque petrolífero é ridicula e é de uma mera aceitação tácita, a resposta às desigualdades dentro da UE é semelhante. O Banco Central Europeu sabe unica e exclusivamente aumentar as taxas de juro como se essa fosse a única resposta que Trichet tem. Em termos militares, a Europa não tem a capacidade de dar resposta aos novos desafios e encolhe-se sempre que alguém bate o pé (basta ver a resposta da UE ao problema das caricaturas de Maomé dos dinamarqueses... todos se encolheram, como se os muçulmanos, coitadinhos, fossem virgens a quem apalparam o rabo). Para além disso tem seguido uma política militar de terceiros, nomeadamente americana, que tem condicionado toda e qualquer veleidade de crescimento autónomo.
 
E hoje, finalmente, mais uma machadada foi dada a essa coisa “mal-parida”, espécie de Constituição Europeia com outro nome, que dá pelo nome de Tratado de Lisboa. Os Irlandeses, a quem agora querem punir, fizeram um referendo e o Não ganhou. Os restantes politicos europeus andavam a fugir disso como o diabo da cruz (veja-se o caso Sócrates com a sua promessa não cumprida de referendo em Portugal) mas os Irlandeses, por imposição legal, fizeram-no e nele é reflectido uma vontade comum à maioria dos europeus: Europa económica sim, Europa política não!
 
Os alarves dos políticos ainda não perceberam que a união politica da europa, forçada e contra-natura, só vai criar o crescimento dos nacionalismos como resposta. Para além disso, se se quer uma UE democrática, onde o cidadão tem uma palavra, não podem fugir às responsabilidades de perguntar ao cidadão europeu aquilo que ele quer. Sempre que fizeram um referendo deste género a resposta foi clara e depois desculpam-se com o tradicional “o cidadão não estava devidamente informado”! mas se não estava informado, de quem é a culpa? Daqueles que a tentarem esconder uma mentira, baralham as coisas de tal maneira que recebem o não.
 
O primeiro império baseava-se numa premissa fundamental: a força do gládio. Agora tentaram criar um segundo mas onde o gládio foi substituído pela demagogia política. Resultado: o 2º morreu antes de nascer e façam agora o que fizerem, quer ratifiquem ou não, a Europa perdeu a legitimidade pois ao fugir do cidadão, alienou-o e hostilizou-o. Tornar um processo económico num processo politico é um erro crasso e foi isso que fizeram com a UE!
 
Um abraço
MS
publicado por GERAL às 01:14
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Sexta-feira, 6 de Junho de 2008

E o PS ganhou.... as Legislativas de 2009

 

Oláá!! Tem sofrido muito? Andam tristes e cabisbaixos? O dinheiro não chega até ao final do mês?
 
Bom, deixemo-nos destas conversas mais realistas e vamos ao que interessa, nomeadamente o estado da nação, ou a nação do estado... como quiserem.
 
O que me traz aqui hoje tem a ver com um facto que afectou, e afecta, a realidade portuguesa de uma forma transversal. Refiro-me às eleições do PSD do passado fim-de-semana. Eu lamento mas este texto será um pouco longo uma vez que é necessário analisar vários aspectos interligados. Peço-vos um pouco de paciência e depois já podem dizer mal à vontade.
 
Nos dias que passaram, todos, de uma forma ou de outra, seguiram o que se passava no interior do PSD, aquele que – dizem – é o maior partido da oposição. Perfilaram-se 4 candidatos e desde o início assistimos a um movimento generalizado em torno da “avózinha”, remetendo para um segundo plano o Passos Coelho, para um terceiro o Santana Lopes e para plano nenhum Patinha Antão.
 
Numa fase tão complicada na vida europeia como a que atravessamos (assistimos a uma vetusta festa da queda do 2º Império – esta eu depois explico, mais tarde, noutro artigo), seria de esperar que face aos desafios da Nação fosse possível apresentar um novo ideal de Social-Democracia sem voltarmos a cair no lugar comum do liberalismo ou do privado, como motor do desenvolvimento. Seria de esperar, também, que mais do que um confronto de gerações e status-quo dentro do PSD, assistissemos a uma eventual mudança em termos de mensagem e integração da sociedade portuguesa na dinâmica de crescimento que vemos ser eternamente adiada. O que assistimos, no entanto, foi a uma luta de três distintas – ou talvez não – gerações de militantes, melhor ou pior manipuladas pelos respectivos “baronatos” internos e devidamente condicionadas pelos media.
 
Atrás de tudo isto, qual contra-regra de um qualquer teatro de intervenção mais ou menos esquerdófilo, tivemos uma interessante, eu diria mesmo a roçar o brilhantismo, manipulação externa movida por parte do PS ao seu adversário político. Porque digo isto? Vamos lá então ver:
 
  1. Em primeiro lugar, como qualquer organização ou família, no seio do PSD encontram-se sempre aqueles que Camões tão bem descreveu e tão bem caracteriza o dito português de topo ou influente: os “velhos do Restelo”. Neste caso não são necessariamente moradores do Restelo mas o conceito assenta que nem uma luva. Tivémos, durante meses, uma campanha “surda” movida por distintas personalidades internas dirigida à cúpula dirigente que, cuidadosamente urdida, serviu para desgastar os dirigentes não-conforme com o élan pretendido no partido. Refiro-me a algumas personalidades que, de uma forma muito pouco honrada ou bem intencionada, levaram ao desgaste e “desmoralização” das bases, de modo a tornarem essas bases uma massa disforme e adormecida, facilmente manipulável e a procurarem um suposto “D. Sebastião” (ou Sebastiona) no primeiro nome que fosse indicado por essas personalidades de renome. Basta ver a actuação de alguns “colunáveis” como Pacheco Pereira, Marcelo Rebelo de Sousa e Ângelo Correia para perceber que ou o status-quo é mantido ou então andam “descontentes” com o interior do Partido e que até nem querem falar disso... Mas a realidade é que ao “NÃO” quererem falar estão efectivamente a levantar um problema (ou facto político) que não existe. E afinal, quem são estes colunáveis? Qual foi o seu contributo para engrandecer o partido e o País? Creio que não é necessário avançar muito por esta área para perceber que não vamos a lado nenhum...
  2. É justamente esta face visivel do “baronato” social-democrata que nos últimos anos tem sido responsável pela pequena duração de cada um dos líderes. Há qualquer coisa intrínsecamente errada em todo o processo: por um lado temos aqueles, de fora, que dizem saber qual a solução e criticam a direcção do partido – nesse aspecto ocorre-me, por exemplo António Borges – mas por outro lado, quando solicitados para avançar para uma posição de liderança, argumentam que não é o momento e que, sobretudo, são militantes do partido que ali estão para ajudar a contruir um País melhor... curiosamente dizem sempre o mesmo e argumentam sempre da mesma forma, mudando o contexto mas não o conteúdo.
  3. Acerca dos candidatos que se apresentaram às últimas eleições internas, sabia-se a priori que Patinha Antão procurara demonstrar que o partido era pluralista e sem aparatchik e que nunca seria capaz de apresentar uma ideia original ou catalizadora das bases; temos, por outro lado, Pedro Passos Coelho, um ilustre desconhecido que poucos se lembram dele do tempo da JSD e que nunca integrou qualquer cargo de destaque em nenhum dos governos social-democrata o que, parece-me, é indiciador das suas capacidades mas que – mais à frente já explico – teve um papel fundamental nestas últimas semanas; tivémos ainda Pedro Santana Lopes, alvo de todos os ódios internos e enfant terrible a quem foi atribuido todos os males da Nação por ter aceite desenrascar um ex-esquerdista que descobriu as virtudes do capitalismo europeu, em nome de um País para a qual esteve nas tintas; finalmente tivémos a “avózinha”. Bem, neste caso vemos a face real do PSD, alguém que foi responsável pelo mais brutal apertar de cinto das últimas décadas e abriu essa porta ao actual governo PS e que quis passar uma imagem de “humanista”, acusando os pupilos dela de tecnocratas. Há pessoas que fisicamente não conseguem esconder a sua personalidade e a Manuela Ferreira Leite é uma delas e atenção, eu nem estou a falar de beleza, refiro-me a uma postura arrogante, com uma certa “pitada” de maldade e profundamente temperada com um afastamento da realidade.
 
Mas como é que isto tem a ver com o PS e com a vitória agora entregue? Vamos seguir um caminho de análise (que muitos poderão chamar de “ilusória teoria da conspiração, não comprovada”) e para perceber o que hoje se passa temos de recuar cerca de 4 anos. Vamos lá então:
 
a)     Quando Durão Barroso é convidado para Presidente da União Europeia, como paga da Cimeira dos Açores que dita a intervenção no Iraque, necessita de deixar um governo PSD / CDS em funções de modo a evitar que o acusassem, e justamente, de ter abandonado o País à imagem do seu antecessor António Guterres. Para além disso, a própria UE não queria ser acusada de ingerência num País ou ser responsabilizada pela queda do seu Governo apenas porque convidou alguém – o que não faltam são por aí são políticos inúteis. Com o apoio do então Presidente, Durão indica Pedro Santana Lopes que tinha nos últimos tempos ganho muito destaque e poderia ser um rival perigoso dentro do partido, numa situação de confronto. Tinha sido Santana Lopes quem tinha conseguido a vitória significativa nas autárquicas. Para além disso, há um velho desentendimento pessoal antigo entre os dois e que não vou referir agora, até porque não interessa.
b)     Convém referir que a Sampaio esta situação também interessava porque, lembram-se, o PS estava de rastos e Ferro Rodrigues era, de facto, muito fraco quer como político quer como potencial candidato a Primeiro-Ministro.
c)      Nesta situação criada, há um outro factor que começa a agitar as águas políticas que são as Presidenciais. Cavaco mantém o suspense e o PS nem parece saber o que são Presidenciais. Aos comunistas ninguém liga e o Bloco de então ainda é para rir. Quando fica acordado o dia de tomada de posse de Santana, começam os problemas mas do lado interno e não externo o que é curioso.
d)     Neste tempo, Marcelo Rebelo de Sousa, Pacheco Pereira e António Borges perfilam-se como os maiores críticos de Santana apesar dele seguir a política anterior. Assim vemos que ou a política anterior não prestava ou então algo se passava. E o que se passava? Cavaco Silva pretendia, desta vez, ser Presidente da República mas sabia que só o conseguiria com o “apoio tácito” do PS e com a ajuda subversiva dos chamados “históricos” do PSD. Por esta altura, também, Cavaco começa a juntar a sua voz aos críticos de Santana, falando na moeda boa... lembram-se desta? Não? Eu lembro!
e)     Durante estes seis meses o PS resolve de vez os seus problemas e os ataques endurecem, criam-se agitações sociais e, à laia de estocada final em qualquer tourada, Sampaio faz um golpe palaciano e administrativamente demite o Governo. As portas estão abertas ao PS. E qual é a “paga” que o PS tem de efectuar? Cavaco na Presidência. Simples!
f)        O PS ganha e quando chega a altura das presidênciais Manuel Alegre apresenta-se como candidato. É perigoso, pode unir a esquerda e retirar a imagem imaculada que Cavaco pretende apresentar. Não é bom lembrar à populaça a segunda maioria de Cavaco e Alegre prepara-se para o fazer. Então, numa excelente manobra política, o PS diz que apoia Soares, divide o PS e a esquerda e abriu a porta a Cavaco de uma forma tão subtil que ninguém se apercebe. Tenho que admitir que é uma excelente manobra. Além disso permite ao PS calar Alegre porque, espera-se, Soares recolheria mais votos que o seu camarada de partido. Alegre tornara-se incómodo numa estrutura partidária que começava a seguir as mesmas linhas económicas do PSD e havia claramente mentido sobre impostos e políticas sociais.
g)     Após a vitória de Cavaco, o relacionamento entre Governo e PR são de uma candura que faz lembrar um casal apaixonado que vê tudo rosa. Alegre continua a ser a pedra no sapato uma vez que ficou à frente de Soares mas por enquanto “lambe as feridas” causadas pela “traição” dos camaradas.
h)      Mas Cavaco não chega a PR incólume, ele terá de garantir que o PS se mantém no poder de modo a garantir um eventual apoio a uma re-candidatura por isso cala-se acerca do rumo governativo e mesmo quando já não consegue fugir à sua responsabilidade de PR usa um ar comedido e professoral, como se não pudesse fazer nada, lembrando apenas alguns “pequenos contra-tempos” mas nunca assumindo o real papel de garante da instituição democrática ou vigilante do bem-estar nacional. Nunca assumiu um papel como Soares – que enquanto PR, muito ajudou à queda do PSD e vitória de Guterres – ou como Sampaio que conseguiu um golpe palaciano.
i)        Neste processo todo, garante-se que o PSD esteja em permanente conflito interno. Os barões não permitem que ninguém ande para a frente e faça a verdadeira oposição. Marques Mendes é demasiado fraco e tem demasiadas coisas do passado das quais não pode fugir, Filipe Menezes é o pequeno invejoso do Norte que tem a mania que sabe umas coisas mas a sua gestão camarária deixa muito a desejar e nunca na vida um “nortista bacoco” dirigirá o PSD. Se fosse hoje, e Sá Carneiro fosse vivo, duvido que conseguiria liderar o PSD.
j)        Com a queda forçada de Menezes aparecem 4 candidatos e como é que se garante que o mais desejável para o PS se sente no palanque? Fácil, lançam Pedro Passos Coelho como o “miúdo” com umas ideias giras e até bem-falante que no fundo vai retirar votos apenas a Pedro Santana Lopes e não consegue tocar no aparelho da “avózinha”. A base de Manuela Ferreira Leite está assegurada e é necessário quebrar as hostes do adversário interno. E assim ganha Manuela Ferreira Leite! Com isso garante que o PS ganhe as próximas eleições, elimina a oposição de Sócrates e assegura o apoio tácito, de novo, a Cavaco Silva nas próximas Presidenciais... e Maquiavel ficaria envergonhado!
 
Porque é que Manuela Ferreira Leite é o passaporte para a vitória de Sócrates? Esta é simples responder... é que, lembram-se, existe aqui uma personagem sinistra, tipo Imperador Palpatine da Guerra das Estrelas, que é o Governador do Banco de Portugal que tem tido um importante papel no realce das supostas políticas económicas de Sócrates, e que irá re-lembrar à Nação o buraco orçamental de mais de 6% no tempo de Ferreira Leite, o Sócrates até se ri cada vez que pensa nas coisas que tem a re-lembrar a Ferreira Leite sobre o papel dela como Ministra da Educação e Ministra da Economia e não há argumento que ela possa apresentar que a livre disso. Para além disso, o ar de “avózinha” com que apareceu nas eleições do PSD depressa passará e voltaremos a assistir à arrogância e soberanceria que ela nos habitou, ar de quem não faz a miníma ideia da realidade portuguesa. Para além disso se há alguém que defende a liberalização descontrolada e o mercado controlado por meia-dúzia de privados é essa senhora e já começou com as questões da privatização da Segurança Social e Saúde... e que bem começou!! Não estou a dizer que o PS não o irá fazer, vai fazê-lo mas com toda a certeza absolutamente encapotado na maior acção de propaganda que o País já assistiu e a maioria dos portugueses até vão pensar que está a ser feita uma bem-feitoria... isto até ao momento em que chegar a primeira factura! Mas o mote para os próximos debates já está lançado e a Manuela Ferreira Leite vai garantir, de borla e sem esforço, a vitória do PS em 2009. a única questão a saber é se será com ou sem maioria absoluta.
 
Também poderá ser argumentado que os outros candidatos eram fraquitos... concordo contudo vejamos o seguinte: Patinha Antão era apenas uma justificação democrática ou pelo menos “pseudo-democrática”; Pedro Passos Coelho não faz a miníma ideia do que se passa no País, serviu para retirar votos a Pedro Santana Lopes e também para poder, finalmente, dar nas vistas... é que a esse já ninguém ligava e ninguém se lembrava. Agora perfila-se para uma eventual Secretaria de Estado “por serviços prestados ao PSD”; Pedro Santana Lopes também tem as suas falhas, mas de todos estes têm um forte argumento a apresentar... é que foi ele que deu a cara pela política de Ferreira Leite, em nome do PSD, foi ele que permitiu a bem-venturança de Durão Barroso na UE e foi ele que antes de começar a governar já tinha o destino traçado e como tal poderia sempre argumentar: “olhe, vá lá queixar-se a Durão Barroso porque foi ele que me deixou o menino nas mãos!”
 
Não vou adiantar muito mais, pelo menos por agora, e lamento o tamanho deste artigo, mas certas coisas são mais complexas de explicar. Isto pode até ser apenas uma teoria da conspiração da minha parte mas... em política, não há coincidências!
 
Pensem um pouco e se tiverem outros argumentos, por favor deixem o vosso comentário...
 
Um abraço
MS
publicado por GERAL às 16:10
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