Segunda-feira, 4 de Junho de 2007

Computadores e coisas afins

Caríssimos leitores,
 
Muito boa tarde/dia/noite a todos.
 
Já há algum tempo que não vinha a este espaço de escárnio e mal-dizer deixar as minhas diatribes. Não o fiz porque resolvi descansar e não por qualquer outra razão superior (ou inferior, tanto faz).
 
Enquanto estive “parado” nesta arte da escrita observei. O país e o mundo não mudaram nada. Continua alegremente no seu caminho da estupidificação de massas e gestão governativa danosa... mas creio que é o normal e o esperado.
 
Mas qual é o tema que me trouxe hoje aqui? Mais uma vez tem a ver com os “brilhantes” governantes com que fomos abençoados. O debate mensal da semana passada – um dia depois da greve geral – levantou um tema que deverá ser fundamental e imprescindivel para o sucesso e crescimento deste país, à beira-mar plantado (ou evacuado se preferirmos), o acesso a computadores portáteis e internet, a preços convenientes.
 
Não consideremos que a nossa taxa de desemprego actual é a mais elevada dos últimos 20 anos; desliguemo-nos do facto de termos a 3ª inflacção mais elevado da UE dos 25; borrifemo-nos para o facto de termos a maior disparidade entre ricos e pobres da UE; caguemos no facto de o nosso crescimento ser dos piores da UE; ignoremos que a nossa taxa de crescimento continua (e continuará) a ser mais baixa que a média europeia o que leva a um afastamento cada vez maior; deixemos para trás a realidade da perca de poder de compra real; nada disto interessa! O que é importante é o acesso à internet e o portátil. Isso sim, é importante!
 
Diz o governo que vai facilitar o acesso a computadores portáteis e internet de banda larga a preços convenientes, isto é, sem valor inicial de entrada e o acesso a um máximo de 15 euros, dependendo apenas dos rendimentos do agregado familiar. Como sou português desconfio destas promessas e porquê?:
- em primeiro lugar porque os cálculos de custos efectuados pelos governos nunca dizem o custo total.
- em segundo lugar porque os diplomas que consagram este tipo de acções nunca são claros nem explicitos, dando espaço a diferentes e opostas interpretações, nomeadamente sobre o que é o fácil acesso e o que significa baixo custo.
- em terceiro lugar porque nunca são definidas as responsabilidades dos fornecedores de acesso à internet nem qual é a sua cobertura real do país.
- finalmente, em quarto lugar, nunca dizem se o preço é com ou sem IVA.
 
Ora vejamos: o país está de rastos, a população cada vez mais empobrecida e miserável, o desemprego é uma realidade incontornável... e a resposta do governo é, pasme-se, comprem computadores portáteis mais baratos e vão para a internet. Ora bem! Já está! Uma bilhante solução... pena que não existisse a internet no tempo de Salazar porque se calhar o homem nunca teria sido contestado.
 
Nos últimos tempos temos assistido à delapidação do pouco que ainda temos no país, vemos autênticos atentados aos princípios de liberdade que, dizem eles, são os fundamentos base da famosa revolução do 25 de Abril e os tugas, no seu tradicional miserabilismo, continuam a seguir calmamente o seu caminho como se de parelhas de bois se tratassem, a quem se pode agredir que os bichos nunca se revoltam.
 
Assisti recentemente a uma verdadeira pérola nesse sentido. Trata-se da tentativa de criar uma base de dados de grevistas, com a respectiva identificação. Era, segundo eles, apenas por uma questão de estatística. Parece que, no meio da imbecilidade judicial portuguesa ainda aparece alguém com 2 dedos de testa que confirma a ilegalidade da medida. Foram os mesmos que no tempo de Cavaco Silva enquanto primeiro-ministro foram para a ponte Salazar/25 de Abril berrar aquando do buzinão que agora dizem, indirecta e disfarçadamente, que a greve é um atentado... hipocrisia até onde chegas!
 
Todos os dias, quando é conveniente, vemos governantes pseudo-esquerdistas do PS clamar pela vitória e legado do 25 de Abril, como tendo sido um legado da liberdade, uma conquista de um povo oprimido, um ataque a Salazar esse “pequeno filho da puta de segunda categoria” como tão bem refere JLM nalgumas das crónicas que aqui já apresentou. Que tal pensarmos um pouco sobre o assunto? Vamos?
  1. quando o 25 de Abril ocorreu, Salazar já tinha morrido há 5 anos e quem detinha o poder era Marcelo Caetano que, segundo os iluminados da política nacional, era um moderado que, inclusivé, deu origem à “primavera Marcelista”, lembram-se? Ou seja, os organizadores do 25 de Abril nem tiveram a coragem de o fazer no tempo de Salazar o que, no léxico português também se conhece por cobardia.
  2. quem está por detrás do famoso golpe de estado no caminho da liberdade não é um grupo de cidadãos e políticos que, na sombra, sofriam pela pobreza do povo e pelo seu sofrimento. É um grupo de militares que, descontes com as suas possibilidades de progressão de carreira devido à guerra colonial, resolveram lutar pelos seus direitos profissionais. O problema é que quando anunciaram na rádio para a população ficar em casa, o tuga – bicho curioso que é, que não se coíbe de parar na A1 para ver um acidente do outro lado, em sentido contrário, assim causando uma enorme fila de trânsito – teve de vir para a rua para ver o que se passava, se era uma revolução ou um outro qualquer arraial de Santo António. Considerando a classe política de então – nova, corajosa, motivada, prenhe de ideias renovadoras – é natural que os tipos tenham logo fugido a sete-pés. E quem deixaram no seu lugar? Quem foi? Os filhos deles, claro! Outras pessoas brilhantes que foram educados por esses “bandidos” de antigamente mas que apesar de tudo não padeciam dos mesmos males.... ridiculo não acham?
  3. como inesperadamente o poder caíu – nem os militares queriam, nem a população esperava – literalmente na rua, não existiam planos políticos para levar o país por um novo caminho. Neste vazio de poder, o único partido político devidamente organizado e estruturado era o Partido Comunista Português, liderado por esse grande Mujhaedin do Portuguistão, esse freedom fighter da Lusitânia, o único e grande Viriato da União Soviética... Álvaro Cunhal (que está apenas a 0,01 pontos percentuais abaixo de Salazar na escala da filha-da-putice). Seguindo os preceitos da doutrina da sua terra de origem, havia que nacionalizar, depois dominar a super-estrutura para finalmente reconstruir a infra-estrutura. Nessa altura era ver todos os que “lutaram” por um país melhor (ahahahahahah.... ai! Até me vieram as lágrimas aos olhos de tanto rir) a andar na rua, de punho erguido e barba comprida a falar pelo proletariado contra o capitalismo... como se eles soubessem o que isso era, uma coisa e outra.
  4. é também nestes anos quentes que os filhos dos antigos criminosos de direita (leia-se políticos do antigo regime) assumiram a direcção do país... e 30 anos depois estamos na mesma situação que estávamos a 23 de Abril de 1974. de facto Kondratief tinha razão quando desenvolveu a teoria dos ciclos históricos!
 
O que é mais curioso é que quando apontamos as ineficácias da actual situação, quando apontamos os erros decorrentes desde este período, invariavelmente aparece alguém a dizer: “ainda estamos a aprender a liberdade de Abril”! devemos, de facto, ser o povo mais burro da Europa se, passados 30 anos ainda não aprendemos a reconhecer os incompetentes que nos governam... os outros aprendem mas nós não!
 
Nesse sentido Sr. Primeiro-Ministro, não vale a pena dar portáteis e internet a ninguém porque a malta ainda pensa que aquilo é uma torradeira de micro-ondas e começa logo a trautear a musica do Quim Barreiros: “Ò lisete! Mete a disquete, que eu estou bem é na internet”!
 
Finalmente, algumas linhas acerca de um outro assunto: no debate da Assembleia, quando confrontado por Paulo Portas acerca dos outros custos associados à OTA, respondeu o Zé que ele nem deveria fazer essa pergunta uma vez que tinha estado num Governo que, inclusivé, tinha enviado os documentos à UE para receber os fundos comunitários. Posso até concordar que o Paulito das feiras esteve nesse dito governo e que deveria saber.... mas ó Zé! Eu não estive em nenhum governo e gostaria de saber quanto é que vai ser a factura total da OTA. Porque é que não posso saber? Não me dizes? É por eu ser apenas mais um da plebe e tu, alimária galáctica, não falas com a plebe?
 
Ups! Tenho que ter cuidado com o que digo a respeito do Zé... ainda posso ser suspenso de funções e demitido, ao melhor estilo Salazarista. Creio que não tenho que referir o nome de Aristides de Souza Mendes que, por não ter concordado com Salazar foi demitido. Parece que pelo menos no norte do país as coisas já funcionam assim... mas devo ser só eu que acho!
 
Voltarei em breve
 
Um abraço
 
MS
publicado por GERAL às 15:27
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