Finalmente acabou!
Finalmente acabou a crise… Hurrraaaa!
É que, sinceramente, já não podia ouvir mais sobre a crise. “Está a chover…”, é a crise; “Amanhã vou de comboio…”, é a crise; “A minha mulher não quer nada comigo…”, é a crise!
Agora que acabou a crise, e tudo voltou ao mesmo, o tuga pode voltar aos assuntos importantes da vida nomeadamente o futebol, a telenovela, o preço dos combustíveis, os talk-shows e reality-shows… em suma, pode voltar à sua “vidinha” complicada em que muito fala e pouco faz.
A questão da banca serviu apenas para que os privados – que estavam a perder lucros – pudessem respirar de alívio, manter os lucros mas desta vez com o requinte de ser à custa dos impostos directos dos contribuintes. A parte melhor é que estes mesmos contribuintes têm as suas contas nos bancos em dificuldades. Isto quer dizer que o contribuinte paga aquelas despesas de manutenção da conta, cartões, transferências, etc e paga também para salvar o banco que já antes lhe meteu a mão no bolso. Isto é que é! Paga para ter o dinheiro e paga para salvar o seu dinheiro… duas vezes é sempre melhor que uma. É lógico, também, que a regulação que todos esperam vai acontecer!!! Claro que vai! Com esta fase de nacionalizações o Estado vai poder regular… ao ficar quieto. Tenho ouvido e lido acerca da regulação mas não há nada concreto. Nem sugestões, nem soluções, nem opiniões; nada mesmo. E de todas as vezes que se menciona esse assunto começa logo a argumentação “agora ainda não é o tempo… temos de resolver a situação actual… primeiro temos de estabilizar os mercados… etc.”… É que estou mesmo a ver!
Mas hoje não quero falar da crise! Já chega da dita…
Hoje vou falar de coisas alegres como… como… como…! Ah! Já sei! Preços dos combustíveis…. Hummm…. É melhor não. E que tal sobre… sobre… Euribor? Também não… este é um tema delicado. É melhor esquecê-lo.
Já sei o que vou falar… eleições regionais dos Açores! Ora aí está… é isso mesmo.
Deu-se, este fim-de-semana, um evento de proporções europeias – quase ao nível da crise financeira – que foi a reeleição de Carlos César (não! Não é familiar do Julius que atravessou o Rubicão) com maioria absoluta. Que leitura podemos fazer? Algumas, que poderão ser interessantes:
- Apesar da maioria absoluta, o PS reduziu a percentagem – Não me espanta! É que apesar de os dirigentes do Partido Socialista serem, em linguagem erudita, uma verdadeira bosta a realidade é que a oposição não consegue apresentar-se como alternativa. A tradição portuguesa de oposição é, aliás, muito fraca e ineficaz. Parte sempre do princípio que oposição é dizer mal sempre de tudo, nunca reconhecendo mais valias quando deveria partir do princípio que oposição é pegar no que de bom qualquer governo faz (embora isto seja sempre difícil encontrar) e fazer melhor, mais rápido, eficaz e com menor custo para o erário público ao mesmo tempo que apresenta ideias inovadoras e melhores. Mas não… aqui no Magreb do Norte oposição é sempre sinónimo de contrário, de acabar com o trabalho anteriormente (bem) feito apenas para “mijar no canto”. Já anteriormente escrevi que o PSD conseguiu garantir a vitória de Sócrates (não! Não tem nada a ver com o filósofo… antes fosse!) em 2009 com a eleição da “avozinha” e agora começam a aparecer os efeitos. Mas mesmo com a vida facilitada foi possível verificar que a malta está farta do PS que governou 11 dos últimos 14 anos (se a memória não me falha) mas que fazer! Não há mais ninguém… ah pois é!
- Nacional versus Regional – Aqui temos a caricata situação em que vemos o PS tentar extrapolar este resultado para demonstrar a aprovação dos tugas enquanto vemos o PSD a proclamar que é apenas uma “coisita” regional. Na realidade estão os dois certos e, em simultâneo, os dois errados. Eu explico:
- Certos porque é uma região nacional… é verdade! Ainda não tem as dimensões das eleições norte-americanas mas lá chegará. Pelo menos com a quantidade de “americanos” recambiados dos states para os açores, aquilo já parece uma sucursal dos republicanos ou dos democratas. A verdade é que estas eleições são o espelho da falta de opções existentes (daí estarem certos) a nível nacional e são, também, um demonstrativo do peso regional do PSD e, consequentemente, uma antevisão das próximas legislativas.
- Errados porque os Açores não passam de mais um região nacional… ora aqui está mais uma verdade à Monsieur de La Palisse! Por muito que tente (com ou sem revisão dos estatutos) o PS não consegue dar expressão a Carlos César… até porque o homem também não quer. Se a madeira é do Jardim, os açores são do César e o segundo não consegue o protagonismo que o primeiro tem. Além disso convém salientar que, mesmo sem revisão do estatuto da madeira, esta ilha tem subido nos indicadores de riqueza da UE, equiparando-se a Lisboa e Algarve (as zonas mais ricas do país). Ora nos açores, mesmo a receber dinheiro do continente, nem uma ilha como as Flores ou Corvo se consegue desenvolver… e, desculpem lá açorianos, com o tamanho que as respectivas têm e com o dinheiro que recebem já dava para alcatifar as duas!
- MFL e o silêncio – o silêncio pode ser de ouro mas neste caso o silêncio é um disparate. A verdade é que o PSD teve dos piores resultados de sempre nos açores e acho que estava na altura da senhora começar a falar tipo canário. Passou pelos açores de fugida, sempre caladita, voltou, sempre caladita, e agora comenta os resultados, sempre caladita! A verdade é que tão “ilustre e iluminada” liderança está a ter os seus resultados e seguir as directivas do Prof. Aníbal não serve ao PSD e muito menos ao país. É que sua excelência, o P.R. já tem reforma do Banco de Portugal, reforma de professor universitário e reforma de ex-primeiro-ministro ao que adiciona o salário de actual P.R. por isso quanto menos mexidas existirem no país melhor figura ele faz. Além disso o homem está com os olhos postos num segundo mandato para poder adicionar a reforma de P.R. e se acontecesse a calamidade de não ser reeleito seria o primeiro a quem isso acontecia desde os idos tempos da revolução.
- O BE – pois é… estes é que a sabem toda. Tiram votos ao PS, ao PCP, ao CDS, ao PSD e a tudo o que mais por aí ande. Mas sou obrigado a concordar que são os únicos que têm feito críticas contundentes à actuação do governo.
- Abstenção – aqui é que a porca torce o rabo! Ninguém quer falar neste assunto! Ninguém quer referir que 53,3% dos açorianos inscritos nos cadernos eleitorais NÃO foi votar. Mais do que procurar sinais de vitória ou derrota deveriam analisar porque é que os portugueses teimam em não votar. Os jornais desportivos dizem – acerca da nossa selecção – que Queiroz alienou o apoio do público em 3 meses. O mesmo se pode dizer acerca dos nossos políticos. A sua alienação da sociedade portuguesa não é de meses mas sim de anos e a pergunta que deixo é a seguinte: que legitimidade tem o governo de Carlos César para governar quando a maioria da população não lhe deu aval (positivo ou negativo)? Mas eu não estou contra isso… eu até acho que deveriam ser mais a não ir votar! Muitos mais! A realidade é que só há duas formas para ensinar a classe política: uma é pela violência com greves, revoluções, guerras civis (que acho que não vale a pena) e a outra é pela sua total ignorância. Nas próximas legislativas NÃO vão votar. Se só lá for 10% da população, que fariam eles? Creio que esta deveria ser a análise prioritária e não se é uma vitória nacional ou regional.
Este contínua a ser o eterno país adiado. Andamos a discutir o sexo dos anjos e os pacóvios ainda alinham nisso. Somos o país que nos últimos 27 anos, tivemos 17 anos de crescimento de 1%, temos um orçamento para 2009 que aumenta a despesa pública para mais de 46% do PIB, mas cujos cidadãos acreditam nos louvores do simplex… enfim, que dizer… somos Portugal, no seu melhor, infelizmente!
Abraço
MS