Nota preliminar: o 1º texto apresentado deve ser lido com sotaque brasileiro. Se não sabem imitar dirijam-se ao café mais próximo e solicitem a um qualquer empregado para ler. Ele saberá fazê-lo na perfeição visto que provavelmente vem de Gonorreianópolis do Brasil.
Carta de um Brasileiro a um português:
“Oi péssoál! Tudo béim? Como anda a galera?
Ó xenti! Hoije tou respeitando o novo acordo ortográfico brasileiro. É imporrtantxi discuti o portuguêis falado pelos carioca e pelos portuguesis.
Dipôis de alargadas discussões nacionais, chegou o momento de ação e pegar o paletó e assinar o acordo de unificação linguistchica dos diferentes países falantes de pórtugueis.
Nóis, brasileiros, falamos a língua porrtuguesa de forma correta encuanto quí vocêis, seus mão-de-vaca, é qui não entende nada da língua materna. Como disse o nosso presidente Lula da Silva – e aí Lulão! – “temosss qui preparar ossss paísissss para o futuro dassss ssssociedadissss” (perrdão pelosss éssssesss mais o nosso présidentxi fala assim mesmu). Por isso a galera préssionou vocêis daí para iscreverem e falarem dji forrma corréta.
O pessoal daí tein qui acabá com essas coisas de cês antisch dji outras letras. Assim não dá não! Si modérnize aí xenti! Nóis keremos cólónizá vóceis né?! Já tâmu mandando pessoal daqui da favela né?
Um grandi chuac pá séis aí.
Édiualberto Ramarisco da Silva Fratilleni”
Resposta de um português, do Norte:
“Oube lá carago!?
Queres que te partam os cornos?! Estás aqui estás a encaixar uma ameixa que até andas de lado!
Bens para aqui armado aos cágados?? És lampiãun??
Ó meu morcão, então tu pensas que falas o português? A língua oficial do F.C:P.? A mesma língua que o senhor presidente Jorge Nuno usa para comunicar com os súbditos?
Bê lá onde te metes ou ainda sais daqui com um salpicãoen enfiado na goela.
Um grande par de tabefes,
Virgílio Manuel da Coxa”
Apesar de não ir lá muito com um ou com outro das personagens deste post, a realidade é que, tirando as idiossincrasias da pronúncia nortenha, as pessoas do norte do país falam e escrevem o português de Portugal e não o português brasileiro.
Qual é afinal a diferença? É tudo português não é?!
Eu não acho que assim seja. A raiz é, sem dúvida, comum mas as especificidades de cada um dos países de língua oficial portuguesa levou a que a língua tuga evoluísse por caminhos diferentes. Se pensarmos bem, temos outros exemplos linguísticos semelhantes ao nosso e que os países envolvidos não necessitaram de acordos “especiais” para se desenvolverem e/ou crescerem. Refiro-me essencialmente à língua inglesa. Olhando para a língua de sua majestade verificamos que têm uma ainda maior diversidade de formas de falar, escrever e pronunciar do que nós, habitantes da terra estranha. Temos o Americano, o Inglês, o australiano, o sul-africano, o jamaicano, entre outros (isto para não falar nas especificidades do próprio reino unido) e tanto quanto sei, não necessitaram negociar uma forma única de inglês para se poderem entender… eles entendem-se à mesma!
No entanto, parece que aos nossos geniais governantes é necessária a implementação de formas únicas de português para nos conseguirmos entender. É curioso, contudo, que seja a língua portuguesa original aquela que sofra as maiores alterações na forma escrita. Parece-me que há uma lógica errada nisto mas devo ser eu que sou assim… complicado!
Por outras palavras: nós desenvolvemos a nossa língua, em paralelo com o nosso desenvolvimento; nós desbravámos novos (velhos?) caminhos marítimos e dinamizámos o contacto com outras culturas; foram os tugas que iniciaram o processo de globalização (eu bem me parecia que NÃO deveríamos ter partido para o mar! vejam lá a consequência daquilo que começámos…); fomos nós que colonizámos outras terras – atenção! Não estou a falar em termos de escravidão mas sim novas terras mesmo, desabitadas, onde ninguém queria morar mas nós fomos para lá; fomos nós que transmitimos a nossa cultura, língua e identidade, e agora se queremos falar com os outros que aprenderam connosco, toca de mudar a língua portuguesa.
Inacreditável…
Eu gostava de saber que história é esta de mudar a nossa língua apenas porque os outros são mais! Eu não sou contra a mudança e evolução da linguagem. Caso fosse, ainda falaria com grunhidos e uma moca na mão. Não! Eu sou a favor da evolução. Mas uma evolução sustentada e muito própria, motivada pela nossa inserção na Europa e não pelo estigma de um passado pseudo-Africano ou pseudo-Brasileiro. Temos uma língua comum (ensinada por nós) mas temos culturas diferentes. Temos sim senhor…
Essa história que temos uma cultura comum é falsa. Tivemos, isso sim, uma história comum, que são coisas distintas. É que a cultura africana é diferente da nossa e a sua raiz linguística tradicional é muito diferente da nossa. Não vou medir se é melhor ou pior, apenas refiro que é diferente e apesar de termos uma forma de expressão semelhante, assente na nossa língua, fruto de condições históricas que não se repetem, temos uma forma instintiva de encarar a utilização do português diferente. O mesmo é válido para os brasileiros, com uma agravante que é o facto de eles “abrasileirarem” todas as formas de estrangeirismos. O facto de se ser diferente, na nossa sociedade moderna, parece ser sinónimo de medição de melhor ou pior. Mas porquê? Eu não estou a medir nada… nem quero! Mas que somos diferentes, ah isso somos e, como tal, podemos ter formas diferentes de encarar a língua materna sem pensar em qualquer tipo de imposição acerca da melhor forma de escrita.
Eu não irei respeitar o novo Acordo Ortográfico. Considero-o despropositado e sem sentido, fora de um caminho evolutivo natural apenas para satisfazer países terceiros e para mostrar um “servilismo” cultural como forma de atrair mais negócios e dinheiro. Se é isso que querem então a solução não está na língua mas sim no tecido produtivo, está na agilidade burocrática, nos benefícios reais que podemos oferecer a uma indústria/actividade que aqui se queira implantar… o resto é pura demagogia e desculpas para o fracasso.
Se somos uma merda como país, não é por causa da existência ou não de um acordo ortográfico mas sim porque não temos a agilidade para darmos o salto para a frente. Historicamente vamos com quatro (4!) tentativas de industrialização, todas falhadas, e a responsabilidade é das diferenças linguísticas? Estão a gozar não é?
E o “pagode” papa isto como um dado adquirido… ora bem!
Abraço
MS