Sexta-feira, 21 de Março de 2008

Homos Domésticus.

Depois de algum tempo afastado deste espaço, devido a tarefas pouco recomendáveis de índole doméstica, consegui um escasso momento para escrever sobre as minhas (in)experiências relacionadas com a dura actividade doméstica.

Eu, que até me gabava de ajudar muito nestas lides, vi-me de repente, fruto de contingências da vida (ou maleitas físicas derivadas de capsulite adesiva, vulgarmente designada por “ombro congelado” – não, não se resolve no micro ondas), com a responsabilidade de substituir a minha mulher no papel de “fada do lar”, no meu caso: pouco fada e demasiado lar.

Graças à minha performance extremamente apurada para esta função, o “lar doce lar” está, temporariamente, transformado em “lar louco lar”.

QUE HORRROR!!!

Nunca sonhei que fosse preciso mesmo, mas mesmo, lavar, estender, amarfanhar, sei lá mais o quê, a tanta roupa. E a louça? Só me ocorre uma palavra: Dantesco. Mas o pior de tudo é:

COZINHAR!!!!

Mexer naquelas coisas horrorosas, como cebolas e alhos!!! Devia ser proibido! Ó senhores da ASAE, vejam lá se se debruçam sobre estes apêndices e eliminam-nos de vez!!!!

Descascar, cortar, mexer, usar “galhos”(parece que se chama agriões) e “couves”, já não falando naqueles dois horrendos temperos (eu dispensava, mas a família exige. Como sou democrata e estou em menor número, sujeito-me – mas sob protesto!), a aventura de confeccionar refeições (no meu caso não se pode utilizar o termo cozinhado – seria um insulto a quem cozinha) raia o limite do ABSURDO!!

Não há tarefa mais ingrata, horas e horas (um verdadeiro desperdício) de volta de tachos, panelas, ingredientes e alimentos para, em poucos segundos, tudo desaparecer ... deglutido ... mastigado ... (vomitado, no meu caso especifico)... em resumo: tanta coisa, tanto trabalho, para escassos momentos de sossego...

Em seguida, regresso alegremente à cozinha para mais um agradável round com a louça – aquilo que se chama: arrumar a cozinha. Pessoalmente, preferia enfiar tudo no lixo, mas a máquina de lavar precisa de funcionar, senão avaria. Sou altruísta, como tenho pena da máquina partilho estes momentos kodac com ela.

E quando penso, “UFA! Agora até calhava bem um pouco de cultura de sofá”...espera...é preciso roupa??? F***-se!! Porquê que temos de ir vestidos para a rua??

Lá vou eu, qual forçado das galés, escolher a roupa, enfiá-la na máquina (outra! as cozinhas parecem centros de electrónica: máquina para isto, máquina para aquilo, máquinas para tudo e para nada, mas afinal para quê? Continua a haver tanto trabalho...), escolher programa (importante, senão a roupa fica com a utilidade de um brinco de orelha), tirar roupa, estendê-la (tarefa particularmente esquisita, segundo a minha mulher (que já tentei expulsar diversas vezes da cozinha – até afixei um cartaz de proibido na porta – sem resultado), e com muita ciência: “Não se pendura de qualquer maneira”, ao contrário do que eu pensava.). Ou então enfiá-la na máquina de secar, escolher novamente programa, retirar roupa para o cesto, despejar água...UFA!!!

Pois, não engomo, deixo esse prazer para a minha empregada. Não sou egoísta. Mas já fiz pequenas incursões nesse domínio, com muitas explicações à mistura (e algum desespero), lá consegui algo parecido com engomar 3 peças de roupa. Sem queimar (outro aparelhometro com mais recursos do que eu pensava – até tem programas para diferentes tipos de roupa).

E penso, “agora ia bem um livrito” ... eis nova rodada: é preciso escolher a roupa para o dia seguinte, mudar lençóis e toalhas (iiiirrrraaaaaaaa! Mais vale dormir embalado no suave odor “chispiano” ou corporal, extremamente soporífico por sinal), recolher o rebanho (no meio de um turbilhão de protestos, com palavras de ordem: “NÃO VOU PARA A CAMA! NÃO VOU PARA A CAMA!), pijamar, lavar dentes, contar histórias de embalar e ...por fim

DORMIR!

Ou seja, desde que chego a casa, relaxado de um dia de trabalho, e entro numa roda-viva, ao melhor estilo de qualquer montanha russa de um parque de diversões, só paro...quando me deito. Fixe! Muito agradável! É tão bom ser adulto e ter uma casa...

Mas a perspectiva é muito boa. Quando um dia de labuta caseira termina...começa logo outro! É esférico, não tem principio nem fim, e dura, dura, dura... quem disse que os diamantes são eternos, não sabe o que é a lide doméstica.

Bolas! Acho que me esqueci de uns pormenores, por exemplo, fazer a sopa: A minha primeira experiência foi particularmente traumatizante. Depois de horas a preparar as verduras (descascar, lavar (sem ser com detergente – a minha mulher ia tendo uma fúria quando me viu a pegar no fairy, eu estava com uma cenoura na outra mão), cortar...), pus tudo ao lume, temperei a olhómetro (outra especificidade única desta actividade – o que é isso? Mede-se como? Qual é a ciência?), mexi e ... a panela começou a transbordar espuma! Sim, espuma amarelada e em grandes quantidades. Um nojo! Em resumo: Tudo para o lixo! Extremamente motivante.

Para terminar, quero em primeiro lugar agradecer a paciência da minha amiga Céu que, coitada, atura-me logo pela manhã, quando deixamos os pequenos na escola (o filhote dela é da turma da minha peste), e que partilha os mesmos sentimentos que eu quanto à absurdidade do uso da cebola e dos alhos na cozinha. Um grande bem-haja para ti!

Por fim, quero prestar as minhas sinceras homenagens a todas aquelas que estoicamente singram diariamente nestas andanças, verdadeiras imperatrizes do reino doméstico, que, com um esforço épico, digno de poemas ao melhor estilo Homérico, armadas de um sorriso nos lábios, zelam por uma felicidade invisível, enchendo de ternura e carinho o seu lar, sem nunca serem devidamente reconhecidas ou recompensadas.

RdS

publicado por GERAL às 00:21
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