Bons Dias / Tardes / Noites.
Cá estou de novo, eheheh! Um mal nunca vem só, não bastava o estado do país e ainda por cima levam comigo aqui.
Para quem teve a infelicidade, que foi o meu caso, de ver os Prós e Contras da RTP1, na segunda-feira, deve estar delirante com o panorama que se avizinha. Isto é que é um governo às direitas, ou será às esquerdas?, já não percebo nada disto. O melhor é serem vocês a escolher que, confesso, eu já estou perdido.
Que conclusões se podem retirar do que foi dito?
Para já, a culpa do estado em que anda o país, afinal, não parece ser dos trabalhadores da Função Pública, mas dá jeito ter um bode expiatório, e também não é dos governos e nem dos governantes, presentes ou anteriores. Então quem é ou quem são os responsáveis?
Pois, para variar…. Ninguém! Ou pelo menos não se acusa directamente ninguém, é mais fácil deixar subjacente que os funcionários públicos também são culpados e gastadores.
Não pretendo defender os funcionários públicos, mas como tem existido tanta polémica e tanta acusação em volta deles, não posso deixar de tentar trazer algum equilíbrio na balança da justiça. É óbvio que existem bons e maus funcionários, mas isso existe em todo o lado e em todas as profissões.
Continuando, descascando mais um pouco o programa, foram proferidas várias afirmações, pelos ilustres convidados, que deixam qualquer um de boca aberta perante a passividade com certas coisas são explanadas vocalmente sem que aja reacção.
Qualquer uma, seja dos governantes, seja de outra pessoa qualquer. (Quero fazer um parêntesis, apenas para explicar que não vi o programa todo, só do meio em diante).
A título ilustrativo, vou só pegar em algumas deixas:
1) Foi referido que 70% das empresas não pagam IRC, apenas 30% cumprem com a sua quota-parte contributiva. Como é que é possível? Andam a exigir um esforço descomunal a quem já paga e vão exigir ainda mais, mas depois não se faz nada para aqueles que não contribuem. Isto no mínimo é insultuoso.
2) Além disso, desses 30% de empresas que pagam, pelos vistos muitas delas têm reduções ou outros mecanismos, que lhes permite reduzir, substancialmente, as suas contribuições. Mas o que é isto? Só os trabalhadores por conta de outrem é que pagam tudo? E ainda nos pedem para apertarmos mais o cinto?
3) Outro ponto interessante, apenas aflorado, o da demora da justiça. Fantástico, processos a iniciar ao fim de 10 anos. Isto realmente dá uma boa ideia do que se pretende para o país: “roubem à vontade! Mesmo que sejam apanhados, com o tempo que isto demora, só em juros, ficam ricos. Não há problema!”.
4) Foi, ainda, dito em alto e bom som, que o grande problema e a origem desta crise está no défice. Enquanto não se chegar aos 3%, isto não acaba. Só não explicaram o verdadeiro problema de existir um défice acima dos 3%. Porquê que é tão importante para a EU que os países tenham os défices até 3%, porque não até 5% ou 7%?
Houve outras coisas interessantes, o mais curioso é que os senhores que lá estiveram, quase todos já fizeram, ou fazem parte, de governos. E o que é que eles fizeram na altura?
Pois, parece que essa parte não interessa nada.
Mas afinal, esta crise é real, ou seja, resulta das contingências dos mercados, ou é imposta?
Será que a estipulação desmesurada de critérios de convergência nas economias europeias não teve a sua quota-parte de responsabilidade?
Será que este clima não veio beneficiar alguns?
Se observarmos o desempenho dos mercados e das economias, o que temos vindo a constatar é:
a) Lucros abismais nas empresas.
b) Despedimentos em massa e/ou redução de salários.
c) Deslocalização de empresas e da produção.
Pelos vistos a crise só teve efeitos em alguns, leia-se trabalhadores.
Mas voltando ao programa, aqueles senhores, especialistas e opinion makers da nossa praça fartaram-se de falar e de contribuir com propostas, a certa altura até parecia que o Ministro das Finanças estava a ser “bonzinho”, perdulário, ingénuo e esbanjador com as suas propostas. Por eles ainda era bem pior. (novo parêntesis, há que reconhecer que o Octávio Teixeira, ainda que timidamente, tentou olhar para as consequências das propostas do governo nas famílias, mas como pelos vistos isso não interessava….)
Praticamente só se falou na economia do Estado, e o resto do país, como é?
Pelos vistos a nossa economia só vive do Estado, então as empresas, os trabalhadores, os desempregados, as famílias, etc, nada disso conta.
Existiam dezenas, centenas, milhares de perguntas que ficaram por fazer, só os testemunhos do povo (3 desgraçados a quem foi concedida a graça de poderem dizer umas palavrinhas) é que ainda colocaram algumas questões com aplicabilidade prática. Mas como não eram assuntos de “alta esfera” ou “eruditos” ou “economicamente livrescas” ou “de elevada oratória” foram tratados com condescendência, enfim, tipo: “vá sou um gajo porreiro e até finjo que ligo ao que dizes”.
Ou, “esses assuntos são menores, estamos aqui para discutir as grandes preocupações da economia nacional e nela tu não entras”. “Não nos podemos preocupar com pormenores mesquinhos e insignificantes”.
Pois é, acho que este é um dos grandes problemas deste país, só que queremos tratar, discutir e opinar sobre mega-questões ou hiper-problemas, o resto não interessa nada. Estes senhores, nas suas omnipotências esquecem-se que, por vezes, bastam pequenos “toques” para as coisas começarem a funcionar melhor.
Além disso o país não vive de Mega-Hiper-Exa-Super, vive de todos nós, cada um nas suas pequenas acções ou mesquinhas existências, contribui para um todo.
No fundo, este show não foi mais do que uma MASCARADA!
Vamos entupir o “tuga” com uns chavões importantes e mais uns desideratos inatingíveis para o calar e continuarmos alegremente, sem alterar o statos quo, a “chular” os mesmos.
RdS