Olá, estão bonzinhos? A vida vai bem?
Estou de volta para mais uns momentos de escárnio e mal-dizer e desta vez o que me traz aqui tem a ver com, mais uma vez, o preço dos combustíveis e do petróleo.
Já vos estou a ver a rolar os olhos, suspirar e murmurar (poucos segundos antes de passar para uma outra página qualquer – preferencialmente porno) “lá está este gajo outra vez”!
Pois é, lá estou eu outra vez! Mas que hei-de fazer, é mais forte que eu... esta “coisa” puxa por mim.
Se se recordam – pelo menos aqueles que leram alguns dos textos passados acerca deste tema – referi no início de 2007 que até final desse ano o preço do petróleo chegaria aos 100 dolares por barril uma vez que os “dirigentes” (deveriam ser mencionados como gatunos mas o português tem destas falhas) da OPEP “temiam” que o preço lá chegasse. Era uma possibilidade, diziam eles, e até estavam preocupados com isso... imagine-se!
Mas a verdade é que, com ou sem preocupações OPEPianas, é que no princípio de 2008 lá chegámos aos 100 dolaritos. Falhei por uns dias apenas o que não foi mau considerando que não sou um perito ou “opinion-maker” (estranho estrangeirismo este que pressupõe que existe alguém que cria opiniões... e eu que pensava que as opiniões eram como as... bem... todos têm direito a uma). Pois, mesmo preocupados os tipos da OPEP lá fizeram chegar o preço à mítica barreira dos 100, eles até nem queriam aqueles lucros mas o mercado – essa inefável besta – puxou por eles e “prontos”!
De acordo com os economistas, esses génios, a barreira mítica dos 100 significava o descalabro da economia mundial, a pior parte do armagedão, algo que envergonharia os 4 cavaleiros do apocalipse. Já agora e apenas como uma pequena nota de rodapé (sem estar no rodapé), os cavaleiros originais – os antigos – eram a guerra, a fome, a pestilência e a morte mas os novos cavaleiros, os do século XX (a modernização chega a qualquer lado!) são a União Europeia, o Mercado, a Globalização e Sócrates, mas voltemos ao armagedão mundial. Dizia eu que a barreira da desgraça era, na versão 1.0, a barreira dos 100.
Esta era a “certeza” de 2006 e 2007. Todos os gurus da economia o diziam à “boca cheia”. O mundo retinha a respiração aos 95 dolares, tremia aos 96, suava aos 97, chorava aos 98 e tinha afrontamentos pré-menstruais aos 99. e o que resolveram experimentar? Experimentaram os 100 e, pasme-se, o mundo não acabou, o universo não entrou em colapso nem se assistiu a um novo big bang! Nada disso... o que aconteceu foi que a populaça chorou a sua falta de dinheiro, encolheu os ombros e lá seguiu com a sua espinha servil.
Entramos em 2008 com novas perspectivas... pois foi! Com a perspectiva que o mundo não acaba assim com três cantigas e uma outra: é que a populaça é masoquista.
Hoje, que escrevo estas palavras, o barril está a 133 dolares e a malta cá continua! Servil e masoquista...
Mas assisti recentemente a uma pequena (muito pequena, note-se) referência nas notícias... é que os tipos da OPEP – outra vez eles, sempre preocupados com o bem estar da malta – andam “preocupados” com a evolução dos preços do petróleo e suas consequências no mundo de hoje e, mais ainda, receiam as consequências do preço do barril nos 200 dolares. Pois é! A nova barreira do fim do mundo...
Mas de uma coisa podem ter a certeza... esse é, no momento, o objectivo dos rapazitos: 200 dolares o barril até ao final de 2008. Aquilo que eu prevejo (já estou como os demais “génios”) é que por volta do verão deste ano o preço chegue aos 150 e no final do ano aos 200. se não for no final deste ano será, seguramente em Janeiro de 2009, à laia de prenda de ano novo. É evidente que os tipos da OPEP andarão preocupados connosco... é que podemos ficar mesmo sem dinheiro para allimentar as máquinas de fazer dinheiro que são as petrolíferas e isso preocupa-os... depois quem é que lhes vai dar dinheiro? Se matam a galinha dos ovos de ouro, a bicha já não pode “cagar” mais uns lingotes não é?
Paralelo a este esquema vicioso do “estou-preocupado-que-os-preços-subam-mas-o-dinheiro-sabe-bem-por-isso-lá-vou-eu-aumentar” temos o esquema dos combustíveis e aqui é que a “porca torce o rabo”. Quem explora o petróleo está a fazer uma fortuna fabulosa mas quem refina o petróleo e quem o vende ainda está a fazer mais dinheiro. Considerando o exemplo português, verificamos que a gasolina aumenta mais que a matéria-prima e que tudo serve de desculpa. Se há problemas na Nigéria, sobe; se não há problemas na Nigéria sobe; Sócrates vai à Venezuela, sobe; Sócrates vai ao parlamento anunciar medidas anti-crise, sobe; as refinarias trabalham, sobe; as refinarias não trabalham, sobe; aumenta a produção da matéria-prima, sobe; estabiliza-se a produção de matéria-prima, sobe; enfim, tudo serve de desculpa para subir.
E depois nós, em desespero de causa, pedimos ao governo que verifique a situação! E qual é a resposta? Pedido um relatório à autoridade da concorrência para verificar a existência, ou não, de cartelização de preços. É para rir, embora não tenha lá muita piada, mais parecendo uma tragédia grega.
Sem trabalhar para a autoridade, posso desde já adiantar que o resultado vai ser inconclusivo e que não existe concertação de preços... claro que não existe! Basta ver que como têm o preço à milésima de euro uma qualquer alteração no valor da milésima significa que o preço é diferente embora em termos de carteira do cliente nada se altere. É evidente se formos abastecer um camião cisterna com, digamos, 10.000 litros de combustível, aí sim, há diferenças mas como o tamanho médio do depósito de um automóvel ronda os 45 litros... bem, façam as contas, eu já fiz.
E depois, para cúmulo do ridículo, pedem ao governo para pôr um travão na “coisa”... ao governo!! Desculpem mas é de rir às gargalhadas. Como é que podem pedir ao governo para impedir algo que lhe está a fornecer dinheiro às pázadas? Como? Isso é o mesmo que vocês irem pedir ao vosso patrão para vos baixar o ordenado. O ISP + IVA aplicado aos impostos é uma das maiores fatias de rendimento do estado e vão pedir ao estado para ganhar menos?
Hilariante!
Nem podemos pensar que o estado irá baixar o ISP ou o IVA. Isso já sabemos que nunca o irá fazer. Os impostos vieram para ficar! Mas o que podemos pedir é que o Estado regule o mercado, que o Estado obrigue as petrolíferas portuguesas a respeitarem a paridade entre o dolar e o euro. O que podemos e devemos exigir ao estado é moralidade, ética e controle sobre o mercado. É que, parece, ainda não perceberam que o mercado não se regula a si próprio, o mercado limita-se a alimentar o propósito do lucro e nada mais. O mercado não quer saber quanto as pessoas ganham, quer apenas saber da margem de lucro para o dono do produto... mas enfim!
Não acham que está na altura de uma revolta? Não acham que está na altura de boicotes decisivos e incisivos? Não devemos ter medo de o dizer... afinal estamos em liberdade desde o 25 de abril... ou não?
Um abraço
MS