Caríssimos leitores,
Muito boa tarde/dia/noite a todos.
Feliz ano anovo a todos!!! Excelente maneira de começar o blog em 2008. É fantástico que os autores deste espaço de escárnio e mal-dizer ainda estejam vivos depois destes dois anos... nem atentados, nem ameaças, nem mesmo o nosso Primeiro (Alarve) Ministro nos demoveu. Chegámos a 2008!
Eu sei que a maioria dos gurus da escrita, isto é, dos opinion maker ou comentaristas de serviço, já fizeram isso antes do ano de 2007 ter acabado mas creio que para se fazer um balanço correcto do ano transacto só o podemos fazer no ano que se inicia... mas isso digo eu, que a mim ninguém me paga uma exorbitância para escrever um monte de lugares-comum, aqui é tudo de borla!
Mas como dizia chegou o momento de fazer o balanço do ano que passou e eleger os heróis e vilões de serviço no ano de 2007 e é isso que vou fazer.
Vamos começar com os “bons” da fita!
Quanto a mim o herói indicutível de 2007 foi o Povo Português mas atenção que está dividido em duas categorias... pois é, o prémio é colectivo e passo a explicar por quê:
a. É de louvar um povo que é sacaneado durante anos e, mesmo assim, consegue sobreviver. O poder de compra diminui, os salários não aumentam, o preço dos bens essenciais aumenta na casa dos 2 dígitos, a inflação está acima do previsto, o desemprego disparou, a miséria e pobreza aumentam... e mesmo assim conseguimos sobreviver. Por intermédio de esquemas paralelos, de familiares, de comer muita sopinha às refeições pois não há dinheiro para mais nada, lá vamos andando, com esta “espinha servil”, ar infeliz e a cantar o fado lá continuamos no nosso caminho.
Apesar do endividamento das familias lá conseguimos dar um pequeno presente de aniversário aos mais próximos; os reformados lá conseguem pagar a electricidade da única lampada que acendem em casa pois com duas acesas já a despesa é demasiada e não dá para comprar os comprimidos para o coração; os doentes lá andam mais uns quilómetros numa ambulância decrépita que deveria ter sido substítuida há cerca de 10 anos para chegar à Urgência cada vez mais distante; as perseguições aos contribuintes (curiosamente são sempre os “por conta de outrém” os perseguidos, são os únicos que não podem escapar) continuam e o cerco é cada vez maior; o clima de medo aplicado a quem, por vezes, diz alguma coisa ou tenta – o infeliz – organizar uma greve é cada vez mais opressivo; o descalabro do desemprego aumenta o seu ritmo e cada vez mais são os jovens os que são prejudicados; a desresponsabilização dos ministros e seus associados é cada vez maior, é cada vez mais evidente; já não é possível esconder que temos cerca de 2,5 milhões de portugueses abaixo do limiar da pobreza (e seriam mais ainda se não existisse uma esmolita da parte do governo para apoio), nem que temos 8% de desemprego e que este afecta mais os jovens licenciados... mas mesmo assim o povo Português segue o seu dia-a-dia, com mais ou menos sacrifício, consegue chegar vivo ao final de cada mês, ainda consegue pagar a renda da casa mesmo que isso implique não comprar roupa para si ou para os filhos, consegue pagar as propinas e despesas escolares, consegue pagar as taxas moderadores e, no final de cada dia, consegue ter um sorriso para dar àqueles que ama, ainda consegue brincar com os filhos, ainda consegue sonhar com um futuro melhor... esses são os Heróis de 2007 e daí vai a minha nota positiva.
b. Por outro lado ainda, partilho esta nota positiva com a outra parte da sociedade, aquela reduzida (e cada vez mais reduzida) que tem a maior riqueza de Portugal. Porquê? Porque conseguiram passar mais um ano sem dar nas vistas, apenas esporadicamente aparece uma ou outra notícia sobre a duplicação de uma fortuna; ou o perdão de uma ou outra divida ao banco; ou de mais um caso de justiça que prescreveu; ou de mais uma ou outra fábrica que fechou e os mesmo voltaram a abrir outra fábrica na porta ao lado, com as mesmas máquinas (mas trabalhadores diferentes e mais baratos) deixando as dividas para trás; também conseguimos ter o primeiro astronauta português, ou melhor, turista espacial que pagou 250.000 dolares por um bilhetinho; porque embora apanhados na Operação Furacão conseguiram continuar na sua vidinha como se nada se passasse e não têm nem medo nem vergonha na cara. Assim, mesmo depois destes pequenos contra-tempos conseguem continuar a vida normal sem serem presos... por isso, para esses, também vai o meu voto positivo. Creio que merecem pelo esforço e dedicação em transformar este País, cada vez mais, na hemorróida da Europa, aquela hemorróida inchada, inflamada e dolorida, vermelha e suja, que incomoda mas que não conseguimos fazer a operação para nos livrar-mos dela pois a lista de espera para as cirurgias é de 14.876.342 pacientes (sim, são mais que a população portuguesa pois é preciso ver que há vários tugas que necessitam de mais do que uma operação)!
Agora, depois de apontados os heróis de 2007, é necessário apontar o que de pior tivémos e os nossos vilões... não podem existir heróis sem vilões, o peninha tinha o mancha negra, o patinhas tinha os irmãos metralha, o super-homem tinha o Lex Luthor, o Afonso Henriques tinha a mãe, os X-Men tinham o Magneto, a bicha do Castelo Branco tem o Zézé Camarinha e por aí fora... vamos então a eles, aos vilões:
a. Pelas razões apontadas no ponto a) dos heróis, o principal ponto negativo de 2007 foi o Povo Português... é, de facto, necessário ser-se uma grande merda para aturar tudo o que nos atiraram para cima em 2007 e não nos revoltarmos, é preciso sermos umas bestas de incompreensível lassitude para continuarmos a suportar a classe política, é fundamental uma dose de cobardia de tal modo elevada que permita a degradação da sociedade sem que nada seja feito... na essencia, é por sermos um povo rasca que temos os dirigentes de merda que temos e continuemos a dizer “Oh! Eles são assim... se não forem estes são outros”!
Foda-se!! Que atraso de vida de povo que somos... fazem de nós “gato-sapato” e a malta continua preocupada com o resultado do benfica ou que o Quaresma tem uma dor no testículo, ou que a selecção é o mais alto representante da nação... é de meter nojo!!
b. O outro ponto negativo (também aqui existe uma repartição ex-equo dos pontos), e também pelas razões apontadas no ponto b) dos heróis, selecciono a cada vez mais pequena classe dos muito privilegiados... nem consigo expressar o asco a tais individuos que, em última análise, são os responsáveis do nosso descalabro e continuam a respirar. O facto de saber que eles se alimentam diariamente incomoda-me pois significa que vão viver mais uns dias... é espantoso que o portuguesito continue a gostar de os ver nas revistas cor-de-rosa, nas festas da sociedade, mesmo depois de saber que esses filhos da puta despediram mais umas centenas de trabalhadores para... comprar mais um ferrari último modelo! E não são presos os gajos! Fantástico!
De facto, nós portugueses temos a merda que merecemos e cada vez que vemos o velho macilento, com fome ou o jovem desempregado, na televisão a queixarem-se que isto está mau devíamos bater no gajo... não por se queixar e dizer mal do status-quo mas sim por permitir esta merda toda! Ele é que é o culpado, não o triste do Sócrates que representa a súmula do povo português: arrogante; idiota; bom no show-off; melhor como mestre de cerimónia de uma qualquer festa; com maus instintos para com o vizinho; que acha que não é vergonha roubar, o que é vergonha é ser apanhado a roubar; incompetente; que usa todos os truques para se safar; vaidoso ao ponto de tentar arranjar uma licenciatura por todos os meios pois é tão saloio que acha que só uma licenciatura é que o valoriza e não o seu trabalho; mentiroso; falso... este Sócrates não é mais do que mais um filho da nação! É o Português de sucesso, a invejar, o self-made man à moda portuguesa.
Aqueles que se indignaram mais com as minhas palavras serão aqueles que comentarão “pois... falas muito mas o que é que tu fizeste?” na esperança de passar a água do capote deles para o dos outros. Para evitar ter que responder a esses comentários adianto já o seguinte: eu não fiz nada e aquilo que escrevi também se aplica a mim... mas pelo menos divirto-me com esta palhaçada de país a que chamamos Portugal!
Para terminar, critico o poema de Alfredo Keil que serve de Hino Nacional em dois aspectos: em primeiro lugar não deveria ser “contra os canhões marchar, marchar!” mas sim a versão original “contra os ingleses marchar, marchar!” pois esses cabrões nada nos deram e a mais velha aliança é, por si e na sua essencia, a mais velha mentira; e em segundo lugar, é por cantarmos “os nossos igrejos avós” que continuamos a ser uma merda! Desde o século XVIII que o somos, porquê mudar agora? Então siga p’rá frente! 2008 chegou e não há nada como continuar a foder o País e o futuro mas atenção! Sempre com um ar sofredor, a cantar o fado... e a pensar no benfica ou nas férias no Algarve (de preferência no Brasil, a crédito, para ficarem ainda mais fodidos finaceiramente... mas o vizinho fica cheio de inveja!)
VIVA Portugal, o único País do mundo onde toda a gente se fode a si mesmo... a rir!!
Um abraço
MS